30/08/2012

CAMINHOS DA UMBANDA

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Quando eu digo que a Umbanda é uma religião abarcadora de consciências, significa que suas portas estão constantemente abertas para todos.

A Umbanda não é discriminatória e no movimento umbandista sempre existe um terreiro em que nossas almas se harmonizam, adequado ao nosso nível de consciência e preparado para desenvolver o nosso reencontro com o Sagrado.

É verdade, que no primeiro momento, muitos procuram a Umbanda para tentar sanar os seus males, sejam eles de origem material, física e objetiva (saúde, dinheiro, emprego, amor, causas as mais diversas etc.), sejam as espirituais e subjetivas (mediunidade, saúde, distúrbios psíquicos e psicológicos, demandas etc.).

Para isso, em dias de reuniões nos terreiros, a maior parte do tempo é dedicado aos trabalhos mediúnicos. Os médiuns incorporam as entidades espirituais e essas realizam o atendimento ao público presente. Esse atendimento visa também a prática da caridade do ouvir, do deixar falar e desabafar, da palavra e do ombro amigo, da mão estendida, do conselho e da orientação proporcionada pelos caboclos, pretos-velhos, crianças, exús entre outros.

Nas reuniões o material vai ao encontro ou serve de instrumento ao espiritual, o visível se conecta ao invisível, objetivo e subjetivo se completam e encarnados e desencarnados se comunicam. As palavras-chaves servir, conexão, completude e comunicação conseguem cumprir os seus significado nas reuniões em um terreiro, se existirem a contra-partida dos trabalhos espirituais. E trabalhos espirituais em 99,9% dos terreiros do movimento umbandista acontecem com médiuns incorporados e entidades atendendo alguém.

A gira mediúnica é o auge ou o clímax de uma reunião umbandista que é dividida em três momentos básicos a saber: abertura, momento que se evocam as forças e entidades espirituais e se invocam as bençãos, proteções, pedidos e auxílios; a gira mediúnica, instante em que os médiuns incorporam as entidades espirituais para atendimento ao público; encerramento, ou seja, o término da reunião, em que se agradece a assistência das forças e entidades espirituais.

Os ritos e liturgias utilizadas nas reuniões do movimento umbandista, variam de terreiro para terreiro, assim, como também, pode se diferenciar a decisão de como se processa a gira mediúnica, que tipos de entidades se fará presente e como deverá se proceder o atendimento ao público. Isso acontece, por que os terreiros são células religiosas que se adequam a coletividade que os rodeia, oferecendo dentro de um determinado padrão mínimo, os ritos, as liturgias, as manifestações espirituais que mais afinizem com os adeptos e o público que frequenta determinada casa.

Abarcar consciências é isso, atender as necessidades espirituais essenciais do indivíduo, mesmo que este processo se inicie por resolver suas necessidades materiais básicas, permitindo um equilíbrio mínimo da sua existência. Proporciona-se assim, condições estáveis a alma para realizar vôos evolutivos mais altos e abrir sua consciência a entendimentos mais profundos e finalmente se religar a Deus.

Através do que já discorremos, podemos chegar a conclusão que o atendimento ao público é o objetivo primordial de todas as reuniões de um terreiro. As pessoas que se encaminham a uma casa espiritual umbandista, possuem expectativas, estão ansiosas para encontrar a solução de seus problemas, desejam sair dali pelo menos reconfortadas, com esperança etc. O público, portanto, deve ter um tratamento especial por parte dos dirigentes, dos organizadores e do corpo mediúnico da casa.

Tudo deve ser voltado para se fornecer um bom atendimento ao público presente. Devem ser bem recebidos, encaminhados a um local apropriado para assistirem a reunião, informados de como se processará o andamento da mesma, como deve ser o seu comportamento durante os trabalhos, em qual momento e como devem se dirigir aos médiuns incorporados, se houver necessidade de se retirar antes da gira terminar como fazê-lo, devem também ser indicados a eles os banheiros, aonde beber água etc.

É de bom tom, que o dirigente em algum instante na abertura, faça uma pequena e rápida preleção (palestra) trazendo para o público, informações, avisos, ensinamentos e doutrina.

Na gira mediúnica devem incorporar somente os médiuns que já tiverem mais experiência e estejam, como dizemos comumente, mais bem afirmados com suas entidades. Desenvolvimento mediúnico deve ser uma reunião a parte e fechada ao público. Após todos os médiuns incorporarem, os cambonos (pessoas que dão assistência as entidades espirituais e ajudam na organização durante a reunião) devem encaminhar o público para o atendimento.

O restante do corpo de adeptos, que não estiverem incorporados, devem sustentar a gira dos que estão em trabalhos mediúnicos através dos cânticos, de bons pensamentos e intenções. É necessário, que se mantenha o bom nível vibratório, para que os trabalhos espirituais aconteçam em segurança e bem equilibrados. Todo o público deve ser atendido, sem exceção.

Uma reunião umbandista é algo bonito de se ver, os cânticos, os tambores e outros instrumentos formando um conjunto harmonioso de sons, a batida das palmas, os fardamentos, as guias coloridas, a decoração do ambiente, as imagens e símbolos do altar e mesmo a forma como se processa os ritos e liturgias enche os olhos e ouvidos de quem vem participar. Visual e som somam-se a um sem número de detalhes para permitir a harmonização de todos os presentes, mas tudo isso não é um espetáculo, nem uma encenação para agradar o público.


EXU BARA DA RUA

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Vou comentar agora sobre uma entidade que é pouco conhecida, mas é uma das mais antigas do culto a exu. Exu bara é uma das entidades mais iluminada do mundo espiritual conta a lenda que mesmo sendo um nobre de uma corte, tentava pregar a filosofia de vida, a alquimia e a magia ao povo da época. Dizia [todos devem crer no criador e na harmonia dos seres vivos] muitos não acreditam que Bara tivesse tanto conhecimento do criador e fosse tão iluminado pela sua filosofia de vida para passar aos nobres. Bara não conseguiu passar aos seres humanos sua mensagem, então quando partiu do mundo carnal para a espiritual decidiu ficar no mundo espiritual para encaminhar as almas perdidas. Falange de bara, Bara da rua, Bara da encruzilhada e Bara da calunga e tambem a o lado do sr ogum bara que é servido ao ogum bara 7 fios de costela assado só no braseiro com um espeto de pau e colocado esse espeto no cruzeiro com cerveja e velas vermelha e se arria na sexta feira santa com outros exus a sua oferenda mas a dos exu de um lado e do outro a de ogum bara. As falanges de bara da rua , encruzilhada e calunga todas tem a missão de encaminhar os seres carnais e espirituais para a luz.

Evolução do Médium

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PRETO VELHO – Meu filho, você tem que evoluir, tudo evolui.
MÉDIUM – O que tenho que fazer, meu Pai?
PRETO VELHO – Se desfaça de todos os bens materiais que você tem. Dê uma parte para os pobres e necessitados e a outra para sua mulher e filhos.
MÉDIUM – De tudo?
PRETO VELHO – Sim. E também de sua mulher e filhos. Vamos sair pelo mundo ajudando aqueles que necessitam. Andaremos de cidade em cidade, de lugar em lugar. Quando tiver fome, eu providenciarei comida; quando tiver sono, eu providenciarei lugar seco e seguro para descansar; quando tiver frio, eu providenciarei agasalho e roupas…
MÉDIUM – Não sei se posso. O senhor está pedindo muito de mim
PRETO VELHO – Mas você não quer evoluir, chegar numa consciência maior?
MÉDIUM – Eu quero evoluir, mas tenho que perder tudo o que tenho. Largar minha família, meus amigos… Não sei se posso fazer isso para evoluir. Prefiro ficar como estou e buscar uma outra forma de evoluir. O senhor mesmo não disse que existem muitas formas de evoluir, porque só me deu esta escolha?

PRETO VELHO – Quando você disse que era necessário retirar as imagens do meu Congá que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que era necessário retirar os atabaques, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que era necessário parar com as oferendas para os Orixás, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que não era preciso utilizar as guias, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que era necessário que os Guias de nossa casa parassem de beber e fumar, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Você procurou outras formas e outros meios na procura de uma consciência maior. Introduziu várias formas e meios diferentes dos que eu lhe ensinei, pois você começou a achá-los atrasados, primitivos. No entanto, eu pedi a você apenas uma coisa, e você diz que é incapaz. Você mudou tudo o que achou necessário, mas não soube mudar por dentro. Evolução não se faz mudando formas, fundamentos, ritos, meios… Evolução se faz de dentro para fora. Não importa o nosso modo de operar nossa magia, mas sim o que ela representa; sua essência e importância na vida dos que nos procuram; a doutrina e a responsabilidade de nossos rituais; nossos fundamentos; o respeito pelo que é nosso. Você mudou procurando o novo, mas apenas buscou novas formas de fazer velhas coisas. Coisas que você achava que eram primitivas e que não fariam você evoluir. Você hoje se baseia em outros para mostrar sua evolução e consciência: se eles mudam lá, você também muda aqui; se eles fazem lá, você faz aqui. Você fugiu das velhas formas, mas apenas buscou o moderno para fazer o velho. Você já está velho. Em breve irá partir e eu não mais o usarei como cavalo. Tenho, agora, nova missão com outro médium. Nele a tradição será mantida e o novo se fundira com o velho em busca da essência e não da forma..

MÉDIUM – O Senhor nunca me recriminou. Nunca disse que não.
PRETO VELHO – Se eu dissesse que não, você ficaria frustrado. Faria as coisas por fazer, sem o respeito ou os fundamentos necessários. Então eu deixei que você fizesse o que achava que era correto, pois você o faria com gosto. Na verdade, você nunca perguntou o que eu achava de tudo isso. Mas mesmo em desacordo, reconheço que você ajudou muitas pessoas.
MÉDIUM – Porque o Senhor só está me dizendo isto agora? Depois de tanto tempo trabalhando comigo…
PRETO VELHO – Você mudou tanto… Tanto que nem o reconheço mais… Só que agora você esta velho. Já está indo embora. Então vim para pedir uma última caminhada juntos, para que você encontrasse sua essência e tivesse a oportunidade de alcançar o que você buscou todos esses anos: evoluir, alcançar uma consciência com Deus.
MÉDIUM – Então todo esse tempo… Todas essas mudanças que fiz… Foram em vão?
PRETO VELHO – Não. Muitos que aqui estiveram e saíram para construir suas casas e nelas buscaram a essência daquilo que você ensinou, e que não mudaram por mudar, seguindo um caminho próprio, conseguiram encontrar uma consciência com Deus e uma evolução de dentro para fora. Você, mesmo sem saber, os ajudou.
MÉDIUM – Mas eu expulsei muitos médiuns por não quererem seguir com minha linha de trabalho.
PRETO VELHO – Eles souberam tirar o melhor de seus ensinamentos e dos meus. Eles abriram suas casas e hoje fazem Umbanda de várias formas.
MÉDIUM – Então…
PRETO VELHO – Sim. Aqueles que você dizia que ficaram no caminho; aqueles que não ficaram mudando constantemente, mas souberam degustar cada momento e perpetuar a tradição, os costumes, os fundamentos, os ritos… Eles mudaram a forma de ver o mundo e sua relação com ele. Buscaram a modernidade nas relações com os médiuns, no entendimento dos novos problemas, essa modernidade viciosa do ser humano. Utilizaram a modernidade e o novo para levar a doutrina, os ensinamentos, a palavra e o auxílio aos que necessitavam, mas souberam dar continuidade à nossa cultura e nossa forma, alcançando a essência naturalmente, gradativa. Mesmo o novo precisa de tradição para virar doutrina e buscar em sua própria forma e essência. Agora é hora de seguirmos juntos.

MÉDIUM – Mas eu não sei se posso largar tudo…. Eu disse ao Senhor que não podia largar tudo o que construí, minha família, mulher, filhos, amigos…
PRETO VELHO – Olhe para baixo… O que você está vendo?
MÉDIUM – Minha família. Minha mulher, meus filhos, meus amigos… Estão à minha volta. E com lágrimas se despedem… Para onde vamos, meu Velho?
PRETO VELHO – Encontrar o seu cavalo e o Terreiro onde você irá trab alhar dando auxílio aos necessitados; conforto aos desesperados; curando os enfermos; agasalhando o frio das almas com palavras de calor e esperança; dando de beber a sede de muitas almas em busca de luz… Agora você é um de nós.
MÉDIUM – É engraçado, meu Velho. Eu busquei tanto o novo tentando alcançar a evolução que evoluí com a missão da tradição e de perpetuar o que não soube dar o devido valor. O Senhor ficará comigo?
PRETO VELHO – Sim, e lhe darei meu nome e minha força. Te ensinarei tudo o
que será necessário. O resto será entre você e seu médium. Ele é novo e muito parecido com você.
MÉDIUM – E como devo agir com ele? Também sofrerei como o Senhor sofreu comigo?
PRETO VELHO – Eu não sofri com você.
MÉDIUM – Mas o Senhor disse…
PRETO VELHO – Eu não disse que sofri. Estava preparando você para tudo isso. Às vezes só se dá o real valor a algo quando ele escorre de nossas mãos. Você vivenciou a tradição, os costumes e os novos meios, as novas formas. Adquiriu experiências diferentes. Segure minha mão…
MÉDIUM – Estou mudando…
NO TERREIRO – "Bate tambor lá na Angola, bate tambor… Bate tambor lá na Angola, bate tambor… Os meus Pretos Velhos batem tambor… Nas minhas Almas batem tambor… Para todo povo, batem tambor… Lá na Angola, bate tambor… Bate tambor lá na Angola, bate tambor… Bate tambor lá na Angola, bate tambor…".
PRETO VELHO – É aquele ….
* O novo PRETO VELHO incorpora e um novo ciclo se inicia…


(Autoria desconhecida)

Relato de uma Cambone

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De tanto ir e vir quis ficar, vestir o branco no corpo e na alma e fazer parte daquele balé pela paz e pela vida.
Quando, pela primeira vez, estive nesta Casa, trazida pelo amor e pela dor, fiquei encantada, literalmente hipnotizada, pela plasticidade e pelo espetáculo cênico que vi. O toque dos atabaques entrou em mim no mesmo ritmo do pulsar do meu coração e eu me deixei levar pela magia e força da gira de Ogum. Pensei já ter me surpreendido com tudo naquela noite, até que me foram apresentados os Exús, daí entender porque se diz que, nesta vida se vive e não se vê tudo.

Aquelas Entidades de olhar penetrante, comandadas por Sr. Tranca Ruas das Almas, com suas capas vermelhas e negras, movimentando-se pelo Terreiro, me fizeram lembrar do fascínio, tantas vezes descrito, de Hemingway pelas touradas. Pareciam todos toureiros, numa invisível tourada do bem contra o mal; da cura contra a dor; do alívio contra a demanda.

Mesmo sem conhecer os seus "porquês", podia-se entender, sem usar a razão, a grande batalha que se travava ali, um combate cheio de amor e "malícia", para subjugar forças poderosas e invisíveis.

Durante uma semana não consegui pensar em outra coisa que não fosse voltar. E voltei. Para, semana após semana, ser surpreendida. Ora pela simplicidade e sabedoria dos Pretos Velhos, ora pela força e dignidade dos Caboclos. Ainda me estava reservado o encantamento pela elegância dos Ciganos, pela alegria das Crianças, e me deixei laçar pela fantástica retidão dos Boiadeiros.

De tanto ir e vir quis ficar, vestir o branco no corpo e na alma e fazer parte daquele balé pela paz e pela vida. No primeiro dia na corrente, aquilo que imaginei ser só alegria, se transforma numa mistura de emoções que poucas vezes havia experimentado na vida. Vontade de ir e de ficar, confiança e dúvida, segurança e medo, mas fiquei mesmo assim, ciente de que estava fazendo a escolha certa e dando uma chance, não para a Umbanda, mas para mim mesma.

Sempre gostei de desafios, e este foi dos bons. Tive de aprender a deixar soltar as amarras que me prendiam ao domínio de mim mesma, a não ter sempre o comando absoluto de tudo, e mesmo assim, conciliar consciência e ausência.
E aí, fui cambonear, e outras lições me aguardavam. Lições de dedicação e humildade. Percebi que não bastava respeitar, era preciso servir. Mas não uma servidão cega, e sim um servir onde se compartilha ensinamentos, donde se suga todo proveito possível; até entender que estava servindo a mim mesma. Cada charuto que acendi, cada bebida que servi, cada ponto que lavei, acenderam em mim uma chama que arde, mas não queima; me embriagaram de esperança e lavaram de minha alma toda e qualquer dúvida que ainda resistia em mim.
Toda vez que achei que não me surpreenderia com mais nada, fui pega pela minha própria ingenuidade. E chorei todas as lágrimas de emoção a que tive direito.

Quando vi Sr. Akuan repreender com os olhos cheios de amor, lembrei do que é ser pai ou mãe. Quando vi Sr. Folha Verde emocionar-se em meu casamento entendi que vale a pena, sempre, chorar de emoção; quando levei um imenso puxão de orelhas do Sr. Rompe Mato e, ao me desculpar ouvi dele "eu só brigo com quem gosto" me certifiquei da profundidade de uma verdadeira relação de amizade e afeto.
No dia em foi jogado meu Obi, limpei meu coração de todo e qualquer desejo, e fui presenteada com os ventos da força e da coragem que são soprados por Iansã. E ser filha dela não é fácil. Tenho que dominar a intensidade de meus próprios ventos, para que eles refresquem e limpem, mas não destruam. E a não despejar sobre Ela, a responsabilidade pelos meus próprios vendavais. Eu continuo ventando, assim como ela, mas já consigo transformar raios e tempestades em chuvas mais amenas. Pelo menos venho tentando com afinco. Às vezes consigo, às vezes não, mas tenho contabilizado apenas os êxitos, para não me entristecer com o que não consegui.

E continuo lavando tábuas, uma a uma. Quando esfrego uma tábua, limpo de mim toda mágoa, quando quebro uma vela, quebro minhas resistências, quando afio um ponteiro, torno mais afiado meu desejo de um dia, quem sabe, chegar onde devo ou preciso. Venho me apaixonando constantemente. Deixei-me seduzir pelo humor ácido da minha querida Velha do Cemitério, que me chamava de "metida à sabichona e curiosa", e que confiou a mim o motivo pelo qual vem servindo a quem precisa, contando-me sua história, que tentei reproduzir da maneira mais fiel possível, para conhecimento de todos. E tive que dominar o ciúme de vê-la camboneada por outra pessoa que não eu. Fui tomada pelo carisma da Cigana Carmen, que ao me emprestar seu espelho, pediu que nele eu visse refletido quem realmente sou. Encantei-me com o comportamento cheio de humor e sabedoria de Chermira, que me ensinou a ver o amor de um modo surpreendente e inesperado; pela devoção de Vovó Maria Conga por Nossa Senhora dos Açores, e que com muita paciência me contou que trançava palha de cana, infinitas vezes, até a raiva passar (como seria bom se aprendêssemos a trançar nossa própria raiva, neste cativeiro em que vivemos!).

Convivi com a força dócil do Sr. Vira Mundo, e com a magia encantadora de Mama Rosa, cujo perfume pude sentir durante dias, dando a certeza de sua presença. Fui tomada pela "pontaria certeira" das cartas de Ramirez, e compartilhei a sua felicidade ao reconhecer entre os que ali estavam, a sua filha de carne; e pela a alegria, por vezes quase infantil de Vovó Catarina, (só não aprendi, ainda, a acender cachimbos, mas eu chego lá) , isso, sem falar na sua vitalidade, deixando-me exausta mas feliz, de tanto andar atrás dela.

Presenciei Tio Antônio aborrecido e desconfortável por beber uma bebida que não era a dele, mas mesmo assim, ser gentil com quem esteve em sua frente. Até que, ao cambonear Caboclo Boiadeiro, eu pude ver, com olhos que nem sabia ter; seu rosto de homem agreste, magro e moreno, se formar por sobre as feições loiras do seu cavalo. Minha emoção foi igual à dele, choramos os dois, e ouvi dele que a emoção é um dos ingredientes indispensáveis à gira de Boiadeiros, que só com esse sentimento conseguimos tornar concreta e possível a força destes "homens" tão ligados a energia que vem da terra. Disse-me também, que por vezes é mais fácil tanger gado que homens, que estes animais de tamanho e força incríveis, tem a docilidade de se deixar conduzir, que nós não temos, mesmo quando precisamos ou pedimos.

Aprendi a compreender o peso da dor do Caboclo Guará, ao ver sua tribo dizimada e seus filhos mortos por ele mesmo, na tentativa de solver com sangue, sua incapacidade de escolher a hora certa de guerrear (quantas vezes nós mesmos não adiamos nossas batalhas e, quando por fim, nos decidimos, lutamos a luta certa na hora errada). Hoje respeito seu silêncio cheio de dor e arrependimento, e sei que o simples fato dele estar ali já nos ajuda, sem que precise dizer uma palavra sequer.
E o que dizer do Sr. Ogum Matinata? E da minha satisfação em conseguir romper a sua resistência inicial ao cambone novo? (E aprendi com a Uca a não ter ciúmes dos novos cambones e a quem agradeço por todas as vezes que recorri a ela e fui ajudada). Sr. Matinata, agora, me conduz pelos caminhos da sua sabedoria, pelos segredos da magia do seu ponto, e pelo modo quando, ao nos chegar pelas costas nos faz escancarar o coração.

"Quem vê cara, não vê coração, filha!", me disse ele. E eu fico ali, segurando seu coité, bebendo dos ensinamentos que ele, no seu modo sisudo de ser, me dá com tanta boa vontade. Sr. Táta Caveira mereceria um capítulo à parte. E ai de quem não andar na linha! Inclusive eu! Ele exige na mesma proporção que entrega. Diz todos os palavrões que eu mesma tenho vontade de dizer, e por vezes digo. Fica indignado com a falta de vontade e força das pessoas, mas os acode sempre. Fica bravo, mas protege; xinga, mas ajuda; reclama, mas está sempre lá, às vezes de bom, às vezes de mau humor, como todos nós, e recebe a todos com aquele olhar maroto de "lá vem mais um...". Conversa com Sr. Morcego,com a intimidade de velhos amigos, ao mesmo tempo em que me cobre com sua capa, sempre que pressente que eu preciso de "colo" e diz que só eu mesma para gostar de "colo" de Exu. E eu gosto!

E assim me é permitido ir transitando entre essas Entidades maravilhosas, entendendo que estão mais próximas de nós do que podemos supor, como disse a Velha do Cemitério, quando choraminguei que estava com saudade dela: "Só temos saudade de quem está longe, filha!".

Só não entende quem não quiser! E vou continuar lavando tábuas, acendendo charutos e velas, servindo bebidas, pois é o mínimo que posso dar, pelo muito que tenho recebido. Sheilla Riekes Prochmann - Abril de 2004

23/08/2012

TEU LIVRO........

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A existência na Terra é um livro que estás escrevendo…
Cada dia é uma página…
Cada hora é uma afirmação de tua personalidade, através das pessoas e das situações que te buscam.
Não menos prezes o ensejo de criar epopeia de amor em torno do teu nome.
As boas obras são frases de luz que endereças à humanidade inteira.
Em cada resposta aos outros, em cada gesto para com os semelhantes, em cada gesto para com os semelhantes, em cada manifestação dos teus pontos de vista e em cada demonstração de tua alma, grafas com tinta perene, a história de tua passagem.
Nas impressões que produzes, ergue-se o livro dos teus testemunhos.
A morte é a grande colecionadora que recolherá as folhas esparsas de tua biografia, gravada por ti mesmo, nas vidas que te rodeiam.
Não desprezes, assim, a companhia da indulgência, através da senda que o Senhor te deu a trilhar.
Faze uma área de amor ao redor do próprio coração, porque só o amor é suficientemente forte e sábio para orientar-te a escritura individual, convertendo em compendio de auxílio e esperança para quantos te seguem os passos, VIVE, pois com Jesus, na intimidade do coração, não te afastes d'Ele em tuas ações de cada dia e o livro de tua vida converter-se-á num poema de felicidade e num tesouro de bênçãos.
Emmanuel

22/08/2012

UMBANDAS....

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Por Alexandre Cumino

Este texto é parte do livro “História da Umbanda”, lançado em Agosto de 2010, na Bienal do Livro em São Paulo, pela Editora Madras. Esta é uma versão editada e adaptada para servir de nota de aula ao Curso de Teologia de Umbanda Sagrada:

Sabemos que existem várias correntes de pensamento dentro a Umbanda e também há muitas formas de praticá-la, ainda que todas se mantenham fiéis à participação dos espíritos nos seus trabalhos ou engiras. Não consideramos nenhuma das correntes melhor ou pior e nem mais ou menos importante para a consolidação da Umbanda, Todas foram, são e sempre serão boas e importantes, pois só assim não se estabelecerá um domínio e uma paralisia geral na assimilação e incorporação de novas práticas ou conceitos renovadores. 


(Rubens Saraceni Formulário de Consagrações Umbandistas Ed. Madras, 2005. p.19)


Há quem defenda um “tipo ideal” de Umbanda, descartando outras formas de praticá-la.[1] Assim uns reconhecem e outros negam as várias Umbandas, creio que podemos trilhar um caminho do meio, no qual a Umbanda é una na essência e diversa nas formas de praticá-la. O UM da Unidade e a BANDA da Diversidade. O Uno e o Verso deste Universo Umbandista.

A liberdade litúrgica permite certas variantes, desde que estas não desvirtuem seus fundamentos básicos. A pluralidade deve existir enquanto não coloca em risco a unidade.

Por unidade podemos entender seus fundamentos básicos, o que deve estar presente em todas as formas ou pelo menos na maioria delas. Portanto é pela unidade que definimos Umbanda e não pela diversidade, que são as diversas maneiras de praticar esta unidade.

Por exemplo, podemos ter como fundamento básico de sua unidade a definição de Umbanda dada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, por meio de seu médium Zélio de Moraes, em 15 de Novembro de 1908:

Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade.

Esta definição está em sua unidade, faz parte de seus fundamentos básicos, não cobrar pelos trabalhos, logo ela pode ter variantes mas nenhuma das tais deve apresentar-se cobrando para realizar trabalhos espirituais. Pois neste ponto a “diversidade” colocaria em risco a “unidade”. Desta forma falar de Umbanda é falar de sua unidade assim como falar de Umbandas é falar de sua pluralidade. Abaixo apresento algo desta pluralidade ou se preferir Diversidade, para nossa reflexão:


  • Umbanda Branca: O termo pode ter surgido da definição de Linha Branca de Umbanda usada por Leal de Souza e adotada por tantos outros. A idéia era de que a Umbanda era uma “Linha” do Espiritismo ou uma forma de praticar Espiritismo, na qual a Linha Branca se divide em outras Sete Linhas. Ao afirmar a Umbanda como Branca subentende-se muitas coisas, entre elas que possa haver outras umbandas, de outras cores e “sabores”. Mas a questão de ser branca está muito mais ligada ao fato de associar ao que é “claro”, “limpo”, “leve” ou simplesmente ausente do “preto”, “escuro” ou “negro” – há um preconceito subentendido – afinal é uma Umbanda mais “branca” que “negra”, mais européia que afro e, porque não, mais Espírita. Geralmente usa-se esta qualificação, “Umbanda Branca”, para definir trabalhos de Umbanda com a ausência do que chamamos de “Linha da Esquerda”, para Leal de Souza uma “Linha Negra”. Ainda hoje muitos se identificam desta forma e geralmente o usam como um “recurso” para “livrar-se” do preconceito de outros... como a dizer: Sou Umbandista, mas da Umbanda Branca – como quem afirma pertencer à “Umbanda boa”. Não há uma “Umbanda Negra” ou uma “Umbanda Ruim”, toda Umbanda é Boa.

  • Umbanda Pura: Ao propor o Primeiro Congresso de Umbanda em 1941 o grupo que assumiu esta responsabilidade esperava apresentar uma “Umbanda Pura” (“desafricanizada” e “orientalizada”), praticada pela classe média no Rio de Janeiro. É a Umbanda praticada pelo “grupo fundador da Umbanda”[2] ou simplesmente o grupo intelectual carioca que lutou pela legitimação da Umbanda, criando a Primeira Federação Espírita de Umbanda do Brasil,  Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda e o Primeiro Jornal de Umbanda. Este grupo pretendia uma “codificação” da Umbanda em seu estado mais puro de ser. Embora a idéia de uma “Religião Pura” sempre será algo a ser questionado, independente de qual tradição lhe tenha dado origem. Do ponto de vista Histórico, Sociológico, Antropológico e até Filosófico, não há “Religião Pura”. Por trás de uma cultura sempre há outras culturas que lhe deram origem, sucessivamente desde que o Homem é homo-sapiens  também éhomo-religiosus. O Antropólogo Arthur Ramos afirma que: “As formas mais adiantadas de religião, mesmo entre os povos mais cultos, não existem em estado puro. Ao lado da religião oficial, há outras atividades subterrâneas...”[3] E o já citado Historiador das Religiões, Mircea Eliade, afirma: “Mas nunca será demais repetir que não há a menor probabilidade de se encontrar, em parte alguma do mundo ou da história, um fenômeno religioso ‘puro’ e perfeitamente ‘original’.” “Nenhuma religião é inteiramente ‘nova’, nenhuma mensagem religiosa elimina completamente o passado; trata-se, antes, de reorganização, renovação, revalorização, integração de elementos – e dos mais essenciais! – de uma tradição religiosa imemorial.”[4]


  • Umbanda Popular: É a prática da religião de Umbanda sem muito conhecimento de causa, sem estudo ou interesse em entender seus fundamentos. É uma forma de religiosidade na qual vale apenas o que é dito e ensinado de forma direta pelos espíritos. O único conhecimento válido é o que veio de forma direta em seu próprio ambiente ritualístico. Não se costuma fazer referências a outras filosofias ou justificar suas praticas de forma “intelectualizada”. Eximindo-se de auto explicar-se reforçam a característica mística da religião, em que, independente de “racionalizações” a prática se sustenta devido a quantidade de resultados positivos alcançados. Podemos dizer que os adeptos muitas vezes não sabem ou tem certeza de como as coisas funcionam, mas sabem que funcionam. É aqui que muitas vezes nos deparamos com médiuns que afirmam, sobre a Umbanda, que não sabem de nada o que estão fazendo, mas que seus guias espirituais (caboclo e outros) sabem e isto lhes basta. Outrora, alguns, afirmam que médium não pode saber de nada de Umbanda para não mistificar. Muitos caem na armadilha do tempo, em que jovem de outrora agora já sabe de muita coisa que finge não saber para manter esta idéia de que nada deve saber. Enfim para nós que acreditamos no estudo dentro da religião é muito difícil abordar um seguimento que não se interesse pela leitura, embora deve-se reconhecer, para não incorrer ao erro, que muitos estudam e conhecem muito das realidades espirituais que nos cercam e ainda assim preferem manter-se junto a uma forma pura de contato espiritual.

PACIÊNCIA PERANTE OS CRÍTICOS

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A partir do momento que decidimos ingressar na vida espiritualista, estaremos sendo alvo dos observadores mais rigorosos. Entre esses críticos estarão os nossos colegas de trabalho, amigos próximos, diversos parentes e principalmente pelos ditos irmãos.


Perceberemos que existe uma preocupação exagerada ou uma alienação total sobre o que/quem somos, como se isso os incomodassem, ou não. Nossos atos serão mais comentados, e ocorrerão reclamações, de que muito tempo é gasto com sua dedicação a tarefas e comportamentos que eles consideram inúteis.  Muitas vezes você será mimoseado com várias alcunhas pejorativas como fanático, lunático e outras. Num momento se é negligente, noutro é intrometido. O que faz um feliz é considerado ofensa por outro.

( Já dizia Sartre;" ...o inferno são os outros.")


Precisamos entender, e isso é importante, que não somos nós quem lhes incomoda, mas a atividade em si. Eles começam a perceber que estão perdendo tempo em não promoverem a própria reforma interior de que necessitam , e ficam aborrecidos de ter perto deles pessoas realmente preocupado e empenhadas em evoluir. 

A nossa presença lhes dão conta disso. Não precisamos dizer nada a respeito, basta estar ali para que eles sintam o peso da própria inoperância. Eles não nos entendem por palavras, mas pelos gestos e comportamento. Se ousarmos falar qualquer coisa, a favor de uma melhoria, mesmo que haja a solicitação, distorcem tudo na tentetiva de nos envenenar. Triste é que a maioria das vezes eles conseguém, pois sempre escolhem alguém frágil no momento.


Mas eu lhe digo para termos paciência e sermos caridosos com eles. Veja como são importantes em nossas vidas. Em primeiro lugar, além de exercitarem nossa paciência, estão também fortalecendo nossa decisão de prosseguir tendo atos equilibrados, pois somos alvos permanentes. Depois, mantendo-nos serenos e pacíficos perante as possíveis agressões verbais, estaremos servindo de exemplo que, talvez, possa ser seguido no futuro.
Portanto, não encaremos de modo radical as críticas quanto à nossa opção. Devemos ser gratos por estarmos servindo de exemplo. Mesmo que não nos sigam, fazendo parte no trabalho de auto-regeneração e caridade.


Existem muitas pessoas sobre a Terra que não toleram, ou não querem, descobrir que adotam comportamentos inadequados. O problema se torna ainda maior, quando comparam o que fazem com exemplos de amor e brandura que partem de outros. Sentem-se agredidos por esta constatação, e disparam sentimentos de rancor para aqueles que emanaram os bons exemplos.


O que precisam ver é que se estão incomodados com as boas ações praticadas por outros, é porque, na realidade, descobriram que não são capazes de agir da mesma forma. Seja por acomodação ou por não terem mesmo conhecimento para tal. E o ódio que irradiam é contra o próprio ego, apesar de pensarem que o estão direcionando para outros.


Isso ocorre com ações do cotidiano, em vários campos da vida, incluindo sentimentos afetivos, filosóficos, religiosos, científicos e até de conversas banais no dia-a-dia. O despertar surge no momento da constatação de que existe um hiato, entre o que fazem e o que os outros fazem melhor. Então, ao invés de avaliarem as diferenças através da autocrítica, para saber onde erraram, remediando o que for preciso, preferem continuar exalando ódio, que, na prática, é sinônimo de inveja e desrespeito.


Não é muito difícil prever o destino dos que agem assim. Porque estão realimentando os erros e as imperfeições que são largos passos na direção de amarguras e de doenças na vida. Frutos da permanente inalação do veneno, que não conseguiram extirpar do próprio ser.


No dia-a-dia, que apenas irradiemos pois, nossas energias emanadas dos nossos Eus Superiores por onde quer que venhamos a passar. E só falemos alguma coisa, quando for para o andamento dos Trabalhos,  e ainda assim, se alguém lhe pedir. Sejamos apenas uma chama ardente irradiadora dA Fonte por onde formos...

- Que nosso Pai Oxalá ilumine todas as mentes e corações!

VSL

20/08/2012

O voo da alma

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Para quando a alma já se encontra resgatada do sequestro.

Abordagem Xamânica:
Imagine que você agora é uma águia sobrevoando montanhas em pleno voo livre. Perceba se sentindo como águia, respirando como águia. Observe ainda seu corpo de águia, seu tamanho, seu peso, sua respiração. Sinta a batida do coração pulsando em seu peito de águia, veja suas penas e todo seu colorido. Tenha em mente que tudo isso agora lhe pertence e que neste momento é você. Usufrua ao longo do seu voo, a experiência e o prazer de ser uma águia de modo total e, ainda assim, em plena consciência de ser você mesmo.

Primeiramente, voe bastante apenas na intenção de voar e de se reconhecer voando. Observe as paisagens por onde passa e se quiser mude o rumo do seu voo de acordo com seus desejos. Usufrua da liberdade de ir e vir, do prazer de lidar só e unicamente com o seu comando interior. Oriente-se pela infalível guiança interna de prazer na sensação de se deixar levar apenas pela ordem da sua intuição aventurando-se no sentido da sua vida.
Ouse dar voos rasantes e também experimente voar nas alturas até sentir o ar lhe faltar. Agora faça piruetas ao ar livre, voe em linha reta, de traz para diante, invente seus voos!

Observe paisagens ficando ora mais próximas, ora mais afastadas. Veja como as cores quando distantes perdem o tom forte desfigurando formas evidenciando-as como se fossem borrões de tinta de aquarela. Em seu voo, aproveite ainda para observar como cenários ficam difíceis de decifrar tanto na visão muito aproximada, como na de muito longe. Continue sua experiência de voo exercendo liberdade de experimentação, reciclando antigas conclusões, ativando novas percepções e vivencias.

Fique mais um pouco plainando e sinta para qual direção esta indo o vento, se vai chover, se há sol, se a temperatura está quente, se fria ou se mais ou menos... Veja se esta com sede ou fome e acaso se estiver, faça seu voo até algum local para onde possa se reabastecer e descansar um pouco.

Perceba que você é definitivamente o dono de seu próprio destino e aprecie este fato, perceba também que, na verdade, sempre o foi apenas não sabia. Comece a observar as cenas do seu voo ficando distantes, pouco a pouco perdendo o significado maior, perdendo a importância de alguns coloridos de outrora. Aprenda definitivamente a deixar para trás o que deve ser deixado e prossiga sob seu comando lúcido, guiando seu próprio voo. E se caso necessitar entender melhor detalhes ou aspectos de alguma situação, cena, sabe que já esta no conhecimento de que poderá se aproximar o bastante, mas nunca o suficiente para perder-se no foco perdendo a dimensão do real e do sagrado exposto pela natureza e escolhido por você para vivenciar e ver.

Daqui por diante, lembre-se de que você é quem define seu próprio voo, sempre. Antes por falta de consciência acabou por "permitir" que outros traçassem os seus próprios projetos de voo. Por falta de consciência ainda, entrou em filmes e cenários que não tinham nada a ver com o que de verdade te satisfaz. Agora, porém, em seu voo solitário aprendeu a reconhecer sua alma da sensação e já sabe fazer uso do prazer único que isso lhe promove e que de fato é o real sentido de sua vida. Não havendo, portanto, nunca mais espaço para que você se corrompa nos desejos de outros ou até mesmo no seu próprio. Já adquiriu a capacidade de se ler e de se honrar seguindo e olhando sempre adiante. Sendo sempre um ser mutante e criativo que se reconhece em si mesmo a cada respiração.

* A experiência de fusão com animais é amplamente difundida no xamanismo com animais de poder visando autoconhecimento, encontro com poder pessoal e a medicina de cura.
* Cada pessoa pode ter acesso ao seu animal de poder e este pode não necessariamente ser uma águia. O exercício do texto é eficiente e direcionado para um animal específico por razões relacionadas ao tema do resgate de alma, fato este que não isenta a possibilidade de uma experiência-jornada em que possa acontecer o encontro com outro animal com características próprias de poder.
* Em meu consultório este recurso é bastante utilizado com resultados altamente eficientes no resgate de forças pós-resgate de sequestro de alma e mesmo como auxílio e ajuda para este fim. Aplicado como abordagem xamânica em algumas técnicas de imaginação ativa.
:: Silvia Malamud ::

Imperfeição

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:: Elisabeth Cavalcante ::

Uma das maiores fontes de insatisfação e ansiedade para o ser humano é a dificuldade em aceitar a si mesmo. Muitos se condenam por não ter o padrão de beleza imposto pelo mundo, por não possuírem a riqueza almejada ou o sucesso e o reconhecimento no campo profissional.

Sentem-se excluídos e indignos de admiração e respeito. O pior que pode acontecer a alguém é não se considerar digno aos seus próprios olhos. Ainda que o mundo inteiro nos condene, se tivermos uma autoestima sólida, nada poderá nos desviar da convicção de que temos valor, ainda que apresentemos alguma imperfeição.

Mas, quando isto não acontece, tornamo-nos vulneráveis ao julgamento do mundo, impondo-nos um esforço sobre-humano para nos encaixar nos padrões que, acreditamos, nos garantirá o amor e a aceitação alheias.

A perfeição é algo totalmente impossível de se alcançar, pois a comparação com os demais, sempre nos trará algum quesito em que seremos superados por outra pessoa.

Portanto, o melhor a fazer é tentar aceitar a nós mesmos de modo incondicional, buscando superar nossas limitações mas sem nos deixarmos dominar pela angústia e a infelicidade, quando isto não é conseguido.

Todos temos direito a respeito e consideração, não importa quais as condições sociais, econômicas ou raciais em que nos encontremos. Ter esta convicção arraigada dentro de nós é a única maneira de construirmos um mundo em que a discriminação, o julgamento e o preconceito estejam totalmente ausentes.

"....a primeira coisa é esta: pare de se julgar. Ao invés de julgar, comece a aceitar-se com todas as suas imperfeições, todas as suas debilidades, todos os seus erros, todos os seus fracassos. Não peça a si mesmo para ser perfeito - isso é, simplesmente, pedir pelo impossível e, depois, você se sentirá frustrado. Você é um ser humano, afinal de contas.

Olhe para os animais, para os pássaros; nenhum deles está preocupado, nenhum deles está triste, nenhum deles está frustrado. Você não vê um búfalo dando fricote. Ele está perfeitamente contente, mascando a mesma grama todos os dias. Ele é quase iluminado. Não há nenhuma tensão: há um tremenda harmonia com a natureza, com ele mesmo, com tudo como é. Os búfalos não criam partidos para revolucionar o mundo, para tornar os búfalos em superbúfalos, para tornar os búfalos religiosos, virtuosos. Nenhum animal está interessado nas idéias humanas.

E eles todos devem estar rindo: "O que aconteceu a vocês? Por que você não pode ser apenas você mesmo, como você é? Qual é a necessidade de ser uma outra pessoa?".
Assim, a primeira coisa é uma profunda aceitação de você mesmo.

...As pessoas julgaram-no, e você deve ter aceito as idéias delas sem nenhuma investigação. Você está sofrendo de todas as espécies de julgamento das pessoas, e você está jogando esses julgamentos nas outras pessoas. E todo esse jogo desenvolveu-se além da proporção - a humanidade inteira está sofrendo disso.

Se você quiser livra-se disso, a primeira coisa é esta: não se julgue. Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas faltas. Não há nenhuma necessidade de fingir outra coisa. Seja você mesmo: "É assim mesmo que eu sou, cheio de medo. Eu não posso andar na noite escura, não posso ir lá na densa floresta.". O que há de errado nisso? - é humano.

Uma vez que você se aceite, você será capaz de aceitar os outros, porque você terá uma clara visão interior de que eles estão sofrendo da mesma doença. E a sua aceitação deles, os ajudará a aceitarem-se.

Nós podemos reverter todo o processo: aceite-se. Isso o torna capaz de aceitar os outros. E porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira vez - quanta tranquilidade se sente! - e eles começam a aceitar os outros.

Se a humanidade inteira chegar ao ponto onde todo mundo é aceito como é, quase noventa por cento da infelicidade simplesmente desaparecerá - ela não tem fundamentos - e os seus corações se abrirão por conta própria e o seu amor estará fluindo". 

OSHO, The Transmission of the Lamp

Por que faz bem incorporar o que é bom

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:: Bel Cesar ::

Recentemente li o livro "O Cérebro de Buda" - neurociência prática para a felicidade - Ed. Alaúde - de Rick Hanson (neuropsicólogo) com Richard Mendius (neurologista). Os autores ressaltam questões importantes que todos nós precisamos saber para sentir mais felicidade.

A primeira é o fato de que muito do que vemos "fora de nós" é criado pelo cérebro, como os efeitos da uma computação gráfica num filme. Nosso cérebro cria uma realidade virtual, pois possui uma extraordinária capacidade para representar tanto a vivência interior como o mundo externo. Por exemplo, os pontos cegos à direita e à esquerda do campo visual não têm forma de buraco no mundo exterior; na verdade, o cérebro os preenche. Neste sentido, os autores explicam que "o cérebro simula o mundo - cada um de nós vive uma realidade virtual próxima o suficiente da realidade para não nos chocarmos com o que estiver pela frente".

Intuitivamente, sabemos que cada um vive a sua realidade. Afinal, é por esta razão que existem tantos conflitos de relacionamentos. Mas, vamos deixar a realidade "dos outros" um pouco de lado e ver como podemos melhorar a nossa realidade interna?

Para tanto, Rick Hanson e Richard Mendius enfatizam a importância de dedicarmos mais tempo para absorver o que é bom. Simples assim: transformamos fatos positivos em experiências positivas. A questão é que quanto mais tempo algo é retido na consciência e quanto mais estimulante emocionalmente isso for, mais neurônios disparam e se conectam e maior é o rastro na memória.

Ao incorporar o que é bom, criamos uma banco de imagens positivas que serão recursos preciosos quando estivermos diante de experiências dolorosas. Pois elas serão mais facilmente superadas por vivências boas que representem o seu oposto. Por exemplo, vamos lidar melhor com uma situação de vulnerabilidade se nos lembrarmos de outras vezes em que fomos capazes de nos erguer após uma queda semelhante.

"É preciso ter experiências positivas para querer repeti-las", disse Guelek Rinpoche. Esta é uma das muitas frases que já escutei dos lamas tibetanos e guardo em meu arquivo de recursos pessoais. Como aceitar dar continuidade a um relacionamento, emprego ou seja lá o que for se só tenho experiências negativas?

Mas o ponto a ressaltar aqui é que nosso cérebro é projetado para mudar por meio de experiências, especialmente as negativas. Hanson e Mendius escrevem: "O problema é justamente este: o cérebro busca, registra, armazena, recorda e reage preferencialmente às experiências desagradáveis; é igual a velcro para as negativas e teflon para as positivas"... "Em virtude da tendência à negatividade do cérebro, é preciso um empenho ativo para interiorizar as experiências positivas e cicatrizar as negativas. Tender para o que é positivo é, na verdade, a correção de um desequilíbrio neurológico".

Portanto, se quisermos preencher os pontos cegos de nossa realidade interna e externa com memórias positivas é melhor esticarmos o tempo de reconhecimento dos momentos positivos de prazer e satisfação. Toda vez que assimilamos uma experiência, construímos uma nova estrutura neural.

Se nos mantivermos por tempo demasiado pensando negativamente, iremos reforçar os caminhos destrutivos com que já convivemos com familiaridade. Assim como Lama Gangchen nos fala: "A realidade é criada pelos nossos pensamentos. A convicção de que os outros nos tratam mal atrai exatamente a mesma energia e comportamento para nós mesmos".

Não é preciso esperar situações "especiais" de prazer e alegria para esticarmos o reconhecimento dos bons momentos em que vivemos. Podemos começar com os pequenos prazeres do cotidiano, como o de tomar um banho e alimentar-se. Podemos parar alguns momentos para rastrear as sensações de nosso corpo a qualquer momento do dia ou quando vamos dormir.

Peter Levine, o criador da abordagem terapêutica naturalista Experiência Somática® voltada para a prevenção e tratamento de traumas escreve em seu livro "Uma voz sem palavras" (Summus Editorial): "A capacidade de se manter focado e conseguir aprofundar essa concentração é uma habilidade magnífica que traz grandes recompensas, mas é adquirida passo a passo e causa frustrações. Em geral, quando as pessoas conseguem entrar em contato com o corpo, primeiro são atraídas para uma região dolorida". Levine ressalta a importância de aprendemos a reconhecer que, mesmo com o corpo tenso, sempre há um lugar menos tenso ou mais relaxado que será a porta de entrada para um vórtice de cura.
Treinar a mente a reconhecer a calma de certas partes de nosso corpo, mesmo quando estamos ansiosos e, em seguida, esticar o tempo deste reconhecimento de bem-estar, são meios eficazes para desacelerar o sistema nervoso nos estados de ansiedade e nos ajudam a ficar no aqui e agora, sem que nos deixemos levar pelas associações com sensações passadas.


17/08/2012

Exu faz o bem e faz o mal? Depende o que você pede para ele?"

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Até quando vamos aceitar que estas perguntas se tornem afirmações:
Exu faz o bem e faz o mal!
Depende o que você pede para ele!

E dizer que não temos nada a ver com isso!!!

Até uma criança sabe o que quer dizer cumplicidade,
ser cúmplice no erro é crime e é burrice,
ser cúmplice no erro é assumir o carma alheio,
ser cúmplice no erro é errar duas vezes...

Exu na Umbanda não é cúmplice do erro alheio,
Médium caído nas trevas da sua própria ignorância é que
passa a ser cúmplice do erro alheio e atrai para si entidades negativas que vão envolve-lo em suas tramas de dor, ódio e vingança com encarnados escravos dos próprios sentidos desvirtuados...

Exu na Umbanda é LEI, é LUZ, é VIDA...

ACEITAR A IDEIA DE QUE EXU É CÚMPLICE,
Aceitar a ideia de que Exu faz o Bem e faz o Mal...
É aceitar que ele seja mesmo o "demônio", "tinhoso",
"coisa ruim", "trevoso"... tudo menos Exu de Lei e
na Umbanda Exu sempre vem na Lei, quando tem
já a liberdade de dar consulta e orientar.

Exu enquanto guia espiritual está sempre na Lei,
Exu enquanto guia quer evoluir e quer também a minha evolução,
Exu enquanto guia é orientador e tem uma consciência maior que a minha.

Exu é Luz em minha vida, e não é apenas Exu; Pombagira também é Lei, Luz e Vida...

Já ouvi falar que falo muito de Exu e Pombagira,
Só não vê quem não quer,
Exu e Pombagira são ponto forte e fraco na Umbanda,
forte se conheço e fraco se desconheço...

Assim como nós, Exu e Pombagira são espelhos de nós mesmos,
se eu conheço minha sombra, se eu conheço minhas trevas, se eu conheço meu ego, se eu conheço meus vicios, se eu conheço minhas paixões e me proponho a trabalhar sentimentos, pensamentos, palavras e atos então este conhecimento me torna forte.

Se eu desconheço ou se coloco para debaixo do tapete minhas dores, medos e traumas então passo a me reprimir, me torno hipócrita, e repreendo no outro o que eu gostaria de vivenciar...

Exu e Pombagira nos ajudam a lidar com estas questões, ajudam a lidar com nosso ego, com nossas dores, com nossas paixões, para vencer nossos desejos desequilibrados e curar nossos sentimentos.

Pena que tantos olham para Exu e Pombagira e só conseguem ver justamente o contrário, querem usar de sua força e poder para vivenciar ainda mais seus desequilibrios... um dia acordarão... o que é inevitável...

Por Alexandre Cumino

 .

09/08/2012

Por que devemos ficar descalços em nossos Terreiros?

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São três motivos principais:

O primeiro é que o solo representa a morada dos nossos antepassados e quando estamos descalços, tocando com os pés no chão, estamos entrando em contato com estes ancestrais e, consequentemente, com todo o conhecimento e a sabedoria que esse passado guarda.



O segundo motivo pelo qual devemos tirar os calçados é o respeito ao solo sagrado do Terreiro. Vir da rua com os sapatos sujos e entrar com eles onde nossos trabalhos espirituais são realizados seria como alguém entrar em nossa casa carregando uma montanha de lixo que vai caindo e se espalhando por todos os cantos. Diante desta situação você diria o quê? No mínimo que essa tal pessoa não tem respeito por você ou pela sua casa.

O terceiro motivo é o fato de que naturalmente nós atuamos como "para-raios" e ao recebermos qualquer energia mais forte, se estivermos descalços sem nenhum material isolante entre nosso corpo e o chão, ela automaticamente se dissipa no solo. É uma forma de garantir a segurança do médium para que não acumule ou leve determinadas energias consigo.

Além de tudo isso pode dizer também que realizar nossos trabalhos espirituais descalços é uma forma de representar a humildade e a simplicidade do Rito Umbandista.

No início, este costume nos cultos de origem africana tinha outro significado. Os pés descalços eram um símbolo da condição de escravo, de não "ser humano", uma vez que o escravo não era considerado um cidadão e estava, por exemplo, na mesma categoria do gado bovino das fazendas. Quando liberto, a primeira coisa que o negro procurava fazer era comprar sapatos, pois era o símbolo de sua liberdade e, de certa forma, faziam com que ele fosse incluso na sociedade formal. O significado da "conquista" dos sapatos era tão profundo que, muitas vezes, eles eram colocados em lugar de destaque na casa para que todos os vissem. No entanto, ao chegar ao Terreiro, espaço que havia sido transformado magisticamente em solo africano, os sapatos tornavam-se novamente apenas um símbolo de valores da sociedade branca e eram deixados do lado de fora. Ali os negros sentiam-se de novo na África e podiam retornar à sua condição de guerreiros, sacerdotes, príncipes, caçadores, etc....

08/08/2012

A ética e o sacerdote

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Quando vemos uma criança apontar um coleguinha como sendo o culpado por uma de suas travessuras, já podemos imaginar como vai ser o futuro dessa pessoa se não houver a interferência dos pais.
Nas diversas áreas podemos sentir as distorções de personalidade,e a falta de caráter,de um indivíduo,que muitas vezes começa lá na infância; quando isso é notado em um sacerdote,me faz lembrar uma conhecida frase Yorubana( En ti ase loore ti ko Du pé buru ju olósa Ti ó kò ní léru ló)aquele a quem concedemos bondades que não expressa gratidão,é pior que o ladrão que rouba nossas coisas.
Quando confiamos em alguém, nossa fé, isso nos torna vulneráveis, abrimos nosso coração e expomos nossas feridas, assim como as mais profundas angústias de nossa alma e, muitas vezes, reconhecemos naquela pessoa um elo de ligação com o sonho e a esperança da realização,e isso nos conduz a conceder bondades a esse suposto confiável,amigo,e orientador.
Quando uma consulta a um sacerdote acontece,nos desnudamos e assumimos nossas falhas,e nossa real condição de impotência para lidar com o desconhecido ou com o inesperado.
Isso coloca,o então, senhor da resposta,como solução as nossas angústias e lhe concede o direito de colocar na solução,custos,mesmo que algumas coisas jamais possam ser pagas, quando de fato acontecem.
A condição de solucionador de problemas do corpo e do espírito,não é verdadeira,na realidade o sacerdote,é somente um elo de ligação,entre a solução e o problema, isso não justifica algumas vaidades exteriorizadas,quando do sucesso do tratamento,até porque a solução partiu do Orisa e não do sacerdote.
Quando analisamos do ponto de vista ético,um orientador,jamais deve afastar uma pessoa de sua religião,e sim fortalecer nela aquilo que naturalmente se desenvolveu: confiança, credibilidade e esperança; jamais tal comportamento deve unir o adepto ao emissário e sim a divindade.
Nada mais justo que por esse caminho não trafegue a ilusão, o dever de quem orienta é ajudar a sonhar e jamais iludir.
Quando buscamos em uma consulta aos Orisas,orientação, evidentemente que os interesses do sacerdote,devem ser omitidos,assim como a opinião pessoal do mesmo.
Tal fato transfere a responsabilidade ao Orisa que orientou,mas em nenhum momento isenta o sacerdote da interpretação.
Acredito de fato que quando alguma coisa deixa de acontecer é um erro de interpretação e nunca um equivoco divino.
Assumir tais erros,é um ato de coragem,e sem dúvida, é uma questão ética, considerando o fato que, além dos interesses envolvidos,houve uma expectativa gerada,nada mais justo que um resultado positivo seja sentido, e a resposta aos questionamentos venha como solução ao problema.

Cozinha do Santo; Onde tudo se aprende

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Muito mais que relacionada com um sistema nutricional, a comida do Santo articula-se e compreende-se a partir de um universo maior, onde a oralidade constitui um dos meios mais expressivos de passar os seus preceitos; a observação um método indispensável para sua manutenção e o comer um dos verbos, que embora muitos conjuguem, reserva-se a poucos, restringindo-se àqueles que conhecendo o “tratamento” entendem o papel e significado desta comida como Axé, força vital e sacrifício indispensável para a conservação da vida.
A comida de Orísá articula-se num universo que estabelece diferenças e “oposições”. As primeiras dizem respeito ao que se come, ao que se pode ou não comer; ou ainda, ao como se come e com quem . As oposições são formuladas, quanto à origem, em comidas secas e comidas de ejé. As comidas secas são também chamadas de comidas frias ou votivas. São todas aquelas não provindas do sacrifício animal, ou as que são à base de grãos, raízes, folhas e frutas. Por sua vez, uma outra oposição relacionada ao quente e ao frio surge tomando como referência o azeite-de-dendê e a pimenta ao lado de outros ingredientes. Outra maneira de formular as “oposições”, diz respeito à passagem mítica da vida de cada Orísá.
Assim, há os que comem com pressa, aos que recebem comidas sem forma, amassadas e aqueles que gostam de comidas mais detalhadas. Isto explica a diversidade de iguarias numa cozinha em que há os que comem cru, mal passado, torrado, frito, cozido e amassado. Dentro desse universo, o azeite-de-dendê ao lado da folha de bananeira cumprem uma função fundamental. Dendê é força, origem. O seu óleo está associado ao esplendor de algumas civilizações ou, ainda, à criação. A bananeira, por sua vez, liga-se ao crescimento e à transformação. Ela é a cama, sobre a qual, tudo que repousa, se deita sobre ela . E tudo que se enrola é envolto nas suas folhas verdes ou secas e amarrado com suas própria fibras. Vale ainda chamarmos a atenção, que, quando se fala da comida de Orísá, associada à uma “cozinha africana”, esta é entendida como um conjunto de técnicas, formas e maneiras de preparar, trazidas pelas diversas etnias africanas, que aqui foram conservadas e reelaboradas, ao lado de outras inventadas. Assim, também, a cozinha dos Orísás. Não se trata de voltar à África, mas fazer com que tal cozinha se torne africana. Africana no sentido de expressar, trazer presente, experiências longínquas de reinos, civilizações, histórias de grupos, somadas a tantas outras. A comida de Orísá é, assim, uma “comida brasileira” em que tantos motivos Afro se fazem presentes. Ao mesmo tempo, é uma “comida africana” onde inúmeras experiências do Novo Mundo foram acrescentadas. A comida de Orísá é um ritual profundamente complexo, elaborado e articulado segundo códigos e princípios, alguns deles de “porque” perdido no tempo. Daí entender-se, mais uma vez, a frase que diz: “ E ainda existe gente que pensa que é só comida….”



Bori, o que é e pra que serve

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Já a algum tempo que venho querendo escrever sobre o Bori e mostrar por “A” mais “B” que Bori não é Camarinha. Ouço muita gente aqui em portugal dizendo que tem Bori quando na verdade tem uma Camarinha de Umbanda. Mesmo porque seria uma covardia comparar um Bori com uma Camarinha.
Abaixo segue o texto de Maria Manuela que explica muito bem o que é o Bori e pra que serve.
Da fusão da palavra Bó, que em Ioruba significa oferenda, com Ori, que quer dizer cabeça, surge o termo Bori, que literalmente traduzido significa “ Oferenda à Cabeça”. Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode-se afirmar que o Bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação, sem a qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela iniciação ao sacerdócio. Sendo assim, quem deu Bori é (Iésè órìsà).
Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu Ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido as suas próprias potencialidades. Odú é o caminho pelo qual se chega à plena realização de Orí, portanto não se pode cobiçar as conquistas dos outros. Cada um, como ensina Orunmilá – Ifá, deve ser grande no seu próprio caminho, pois, embora se escolha o Orí antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida.
Exú, por exemplo, mostra-nos a encruzilhada, ou seja, revela que temos vários caminhos a escolher. Ponderar e escolher a trajectória mais adequada é a tarefa que cabe a cada Orí, por isso, o equilíbrio e a clareza são fundamentais na hora da decisão e é por intermédio do Bori que tudo é adquirido.
Os mais antigos souberam que Ajalá é o Orixá funfun responsável pela criação de Orí. Desta forma, ensinaram-nos que Oxalá deve ser sempre evocado na cerimónia de Bori. Iemanjá é a mãe da individualidade, e por essa razão está directamente relacionada com Orí, sendo imprescindível a sua participação no ritual.
A própria cabeça é a síntese dos caminhos entrecruzados. A individualidade e a iniciação (que são únicas e acabam, muitas vezes, configurando-se como sinónimos) começam no Orí, que ao mesmo tempo aponta para as quatro direcções.
OJUORI – A TESTA
ICOCO ORI – A NUCA
OPA OTUM – O LADO DIREITO
OPA OSSI – O LADO ESQUERDO
Desta mesma forma, a Terra também é dividida em quatro pontos: norte, sul, este e oeste; o centro é a referencia, logo, todas as pessoas se devem colocar como o centro do mundo, tendo à sua volta os quatro pontos cardeais: os caminhos a escolher e a seguir. A cabeça é uma síntese do mundo, com todas as possibilidades e contradições.
Em África, Orí é considerado um Deus, aliás, o primeiro que deve ser cultuado, mas é também, juntamente com o sopro da vida (emi) e o organismo (ese), um conceito fundamental para compreender os rituais relacionados com a vida, como o Axexê (asesé). Nota-se a importância destes elementos, sobretudo o Orí, pelos Orikis com que são invocados.
O Bori prepara a cabeça para que o Orixá se possa manifestar plenamente. Entre as oferendas que são feitas ao Orí algumas merecem menção especial.
É o caso da galinha de Angola, chamada Etun ou Konkém no Candomblé; ela é o maior símbolo de individualização e representa a própria iniciação. A Etun é adoxu (adosú), ou seja, é feita nos mistérios do Orixá. Ela já nasce com Exú, por isso se relaciona com o começo e com o fim, com a vida e a morte, por isso está no Bori e no Axexê.
O peixe representa as potencialidades, pois a imensidão do oceano é a sua casa e a liberdade o seu próprio caminho. As comidas brancas, principalmente os grãos, evocam fertilidade e fartura. Flores, que aguardam a germinação, e frutas, os produtos da flor germinada, simbolizam a fartura e a riqueza.
O pombo branco é o maior símbolo do poder criador, portanto não pode faltar. A noz cola, isto é, o obi é sempre o primeiro alimento oferecido a Ori; é a boa semente que se planta e se espera que dê bons frutos.
Todos os elementos que constituem a oferenda à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz, tranquilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade, mas cabe ao Orí de cada um eleger as prioridades e, uma vez cultuado como deve ser, proporciona-as aos seus filhos.
Nunca se esqueça: Orixá começa com Orí.
Este excelente texto foi publicado no blog http://ocandomble.wordpress.com pela Maria Manuela, confiram mais textos no blog.
Pra próxima semana trago a entreviste que realizei com Babálorixá Zé Carlos de Oxoguian.
Axé a todos!



A VERDADE QUE A MENTIRA CONTA....

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triste como vivemos mentiras em nossas vidas da forma mais inocente e consciente possível. Seja no trabalho, com a família, com amigos ou na vida amorosa. É lamentável como levamos isso em nosso cotidiano e muitas vezes nem nos damos conta das “mentiras” que vivemos em troca de felicidade momentânea.

Infelizmente quem, hoje, pode dizer que é feliz de forma completa! Nunca nos contentamos com nada. Nos submetemos a situações e criamos dependência por pequenos momentos de felicidade.
Mesmo que seja uma mentira , mesmo que seja surreal. A felicidade vale a pena. Aquela sensação que não conseguimos reproduzir ou descrever.
Judas fraquejou mesmo sendo avisado. A falha está no homem, no desejo de felicidade, na vontade de em algum momento se completar de alguma forma.
Dizem que uma mentira contada varias vezes acaba por se tornar verdade. Então vamos mentir pela felicidade, pelo amor. Vamos mentir pelo bem ao próximo, pelo bem da vida, por um futuro melhor, tentando acreditar que o ser humano pode ser melhor e superior ao egoísmo e a ganancia.
A felicidade se resume a momentos e como vai ser construído o alicerce para este momento podemos sempre escolher. Saiba detectar defeitos, mais acima de tudo, saiba exaltar as qualidades.
Dizer que a mentira supera a verdade é como dizer que a razão supera o coração. Minta só se for pelo bem comum – nunca pelo egoísmo, mas mesmo assim compartilhe a verdade com alguém, porque a sua verdade pode ser uma grande mentira e a mentira uma verdade necessária.
Não quero incentivar a mentira, quero apenas alertar para o dia a dia, para as mentiras inocentes  que acabam com uma boa amizade, com um lindo amor e que separam famílias. Mentiras que deixam um vazio tão grande que o universo não poderia ocupar, uma dor constante sem remédio conhecido. Eternize a felicidade, o ontem é história e o futuro pode nem vir a chegar.

Por MUTAKELENJI 

03/08/2012

Olhe uma vela....

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Olhe uma vela, defina sua luz e perceba que apesar de iluminar, de seu fogo queimar, de transmitir calor, a definição será mil em mil.

Nunca é tarde pra lembrar: a verdade, como a Umbanda, tem muitas faces.

Mas, todas, sempre, luminosas.
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