Falaremos um pouco de Egun, lembrando que apenas uma divindade conheceu
o mundo como os homens conhecem e apenas Ele esteve e voltou do mundo
dos mortos e é por isso que é chamado de "Rei do Mundo", segundo a Cabala
e os Itans mais profundos, ligados aos arcanos da Morte, do Mundo e do
Julgamento, Ogbé-Fun, Ireté-Iwonrin, e outros. Mas isso é Awo, como se
diz na linguagem do santo, é coisa a ser compreendida dentro dos templos
e através da iniciação e não em cursos de final de semana e em
"faculdades" de Umbanda, como se Umbanda e religiões afro-brasileiras se
aprendessem em academias.
A idéia geral e corrente de Egun
(que entre os Bantu são chamados de Vumbi) é a de um espírito
desencarnado, o que nos remete, obviamente, a relacionar Caboclos,
Pretos Velhos e Crianças como Eguns. Realmente eles o são e é aí que a
confusão começa, já que muitas pessoas relacionam os Eguns tão somente a
espíritos atrsados. Esta é apenas uma das classes de Eguns,
genericamente espíritos ancestrais de várias categorias. Poucos sabem
que nas tradições antigas existiam TRÊS categorias de Eguns, ou
espíritos ancestrais ligados aos homens e ao caminho da civilização em
seus vários níveis:
1) Os Baba Egun, que são os antepassados
ilustres,aqueles que já conhecem o "outro lado" e já possuem uma posição
definida no mundo astral, senhores de raça, de civilizações e de grupos
humanos antigos. Estes são os que podem ser identificados - até certo
grau, e acima de certa fronteira - como nossos Caboclos, Pais Velhos e
Crianças e podem até mesmo ser assentados com o rito correto, com seus
fundamentos de louça, de madeira nobre (cedro e outras) e seus objetos
de poder. Nota: os Egun Apaaraká são a representação ritual dos Eguns
que não falam e que não possuem suas bandeiras de identificação (os
Bantés), mas se tornam, um dia, Baba Eguns. Traduzem apenas um momento
da iniciação ainda não completa do Culto Lexé Egun.
2) Os Egun
Oku Orun, chamados de cidadãos do Orun. São os espíritos de pessoas
simples desencarnadas, que não foram condutores de raça, nem antigos
responsáveis por grupos humanos. São como eu e você, que, ao
desencarnarmos e chegarnos no mundo astral, somos direcionados para esta
ou aquela função, embora saibamos nossa colocação momentânea no
universo, etc. São aqueles que podem ser cultuados com o fundamento da
telha e da madeira.
3) Egun Oku Ayê ou Iwin: estes, sim, são
aqueles que não saíram da órbita do planeta (em geral ficam presos em
uma dimensão conhecida pelos antigos como Orunapadi), são chamados de
cidadãos da terra, ou seja, são estes que vagam sem rumo, que ainda
estão presos em redes negativas de emanações afeitas à paixão, à doença e
a todas as mazelas humanas. Podem ser maléficos ou não, mas sempre são
prejudiciais e se agrupam em falanges sem noção de sua condição no
universo astral. Muitos acreditam que ainda estão vivos, outros sabem
disso e se ligam a encarnados visando sugar-lhes a vitalidade. São
conhecidos também como Kiumbas em língua Quicongo ou ainda são chamados
de Arajés ou Ajaguns. Possuem o fundamento da bigorna e das tábuas de
sangue, da corda e da corrente.
Estas três categorias se
subdividem em mais três cada uma, no MISTÉRIO DAS ALMAS, que vai das
Almas Glorificadas às Almas Penadas, Sofridas e Desesperadas do nono
degrau, finalmente concretizando a escada das almas (ou na escada de
Kitembu), símbolo máximo de Iansa, mãe dos nove Orun.
Há ainda a
representação dos Esa, divindades coletivas e as Aku, que são as
ancestrais femininas, perigosíssimas, que "nascem" (voltam!) dentro da
casa onde estã assentada as Iya-mi. Os Esa são invocados e cultuados em
diversas situações, especialmente no padê, e no axexê quando é
constituído o assentamento de um adoxu ou dignatário ilustre falecido. O
assento de Esa se caracteriza pela representação da existência
genérica, e o Egungun pela representação do espírito individualizado, o
Egungun se caracteriza pela aparição no aiyê. Os Esa e as Aku são
invocados no ipadê nos códigos dos cânticos. Com estes dois fundamentos o
11 da força está completo. Obs: Fundamentos da Tradição do Tambor.
Ayóòn Lòónan.
Assunto seríssimo! Questão delicada de se tratar, aqui feita com perfeição pelo sacerdote William Oliveira.
Em breve estará em seu novo livro que aguardamos ansiosamente.
Embora os termos remetam às tradições africanas, é possível compreender
que revelam aspectos universais da existência além do corpo.
William de Ayrá (Obashanan) - Dirigente do Templo da Estrela Verde