23/01/2015

A honra de um exu

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 Exu não é pinga. Não é baderna e nem bagunça. Exu não é bico de garrafa na boca e, também, não é embriaguez e muito menos baixaria. Exu não dá o que não deve, mas, se necessário, tira o que não serve. Exu é caminho, força e vitalidade. Não se vende, não se corrompe e não perde.
É força, planejamento e foco. É de natureza grandiosa e benevolente. No tabuleiro é Rei, torre, cavalo e bispo. Não é peão de ninguém. Quem o chama de servo, com certeza já é cativo de seu poder. Não é e nunca foi escravo de ninguém. Não baixa em sessão neo-pentecostal e muito menos perde tempo com sandices mediúnicas.
Alguns dizem que é o nosso melhor e o nosso pior. Discordo. É o que tem de melhor pra quem sabe ter postura, entendimento e discernimento.  Como vejo a imagem do Exu que me acompanha? Como um General. Um senhor de princípios, valores e honra. Sim! Honra! Ingrediente que vem faltando na panela de muitas pessoas…
Exu não é bandido, marginal ou irracional. Exu é poder! Sim, alguns têm preço, seu 7 têm valores, que me ensinou e ensina. Com força quando necessário, com dor quando for preciso. Mas sempre junto e atento.
De tudo que tenho, daria tudo pra não ter a sua ausência. Minha história é escrita com a “caneta” dele. Gratidão Seu 7, hoje e sempre.
Venha! Deixe Exu ser caminho na sua Vida.
                                               Jorge Scritori

22/01/2015

A PRIMEIRA INCORPORAÇÃO

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 Acho que a curiosidade com a incorporação é comum nos médiuns que trabalham num Terreiro de Umbanda. Todos querem saber como é o contato com uma entidade, quais são as sensações; todos querem dançar como a Pombagira ou sentir os ensinamentos sábios de um Preto Velho. E eu também me sentia assim.
Após muitos conflitos internos e após reformular muitas coisas na minha vida, eu me sentia pronta para começar a trabalhar. Estava feliz, porque me sentia pronta do fundo do meu coração, com sentimentos puros e verdadeiros, e não por orgulho ou para querer aparecer. Agradeci aos Orixás por não me terem deixado começar a incorporar pelos motivos errados, pois o tempo para reflexão e mudança foi necessário e eu estava muito grata por aquilo.
Era mais um dia de trabalho, o Terreiro estava cheio e eu estava feliz e bem disposta. Quando os médiuns começaram a cantar para as entidades eu fechei bem os olhos e, numa reflexão muito íntima, orei: “Meus Orixás, meus amigos espirituais que me acompanham, eu agradeço por estar aqui. Se for o meu caminho, se for a Vossa vontade, eu sinto-me pronta para trabalhar. Abro o meu corpo e o meu coração para que as entidades manifestem-se através de mim e ajudem todas as pessoas que estão aqui presentes, para o bem maior de cada uma”.
Com esta prece sincera e de coração, concentrei-me e comecei a sentir umas vibrações pelo meu corpo. Sabia que aquilo significava o início de uma incorporação. Vários pensamentos passavam pela minha cabeça: “O que vai acontecer a seguir? Será que eu danço? Será que eu falo? Este movimento foi meu ou foi da entidade que está a incorporar?” É difícil controlar estes pensamentos, mas respirei fundo, fiz um grande esforço para esvaziar a minha cabeça e deixar acontecer o que tinha que acontecer.
Naquele dia, tive a minha primeira incorporação. A vibração e a presença da entidade, uma Cabocla, não foram sentidas de maneira muito forte, e por isso nenhuma pessoa de fora foi atendida por mim, apenas um ou outro médium da casa. Os meus pensamentos e as minhas próprias sensações ainda estavam muito presentes e dificultavam a minha concentração e entrega. Mas, ainda assim, percebi a feição do meu rosto ficar diferente, percebi as minhas mãos a se moverem involuntariamente, senti intuições que pareciam não ser minhas, como a vontade de pedir o álcool com cânfora para a limpeza ou de soprar certas regiões do corpo da pessoa que estava a ser limpa.
Que interessante era a incorporação! Apesar de ter a percepção de tudo o que se passava a minha volta, de estar plenamente consciente, eu sentia outra força manifestar-se através do meu corpo. Senti a força e a grandiosidade daquela entidade e do mundo espiritual como um todo. Senti a grandiosidade da vida, retirei do meu coração qualquer dúvida que eu poderia ter sobre a continuidade e eternidade da vida após a morte no mundo terreno. De repente a minha vida aqui na Terra, os meus conflitos pessoais, as preocupações que me tiravam o sono se tornaram tão pequeninos…
Certamente a minha vida nunca mais seria a mesma após o primeiro contato com a força das entidades da Umbanda.

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

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Muito se fala sobre a intolerância religiosa, na maioria praticada por seguidores de determinadas religiões cujos seguidores se acreditam os únicos ungidos e amparados por Deus, mas pouco se tem falado na intolerância praticada pelo poder público, que se mostra solícito com as manifestações dos seguidores das religiões cristãs (católicos e evangélicos), franqueando-lhes espaço público em estádios praças e avenidas, proporcionando-lhes os mais variados serviços públicos (desde proteção policial até médicos, seguranças e fiscalização) para que possam realizar seus eventos com toda tranquilidade e segurança, não cobrando nada, por maiores que sejam os gastos que realizam. 
Contudo, quando é a vez da Umbanda promover seus eventos religiosos em homenagem a Iemanjá, tudo muda. Aí, as tendas, além de serem obrigadas a pagarem taxas de uso do solo, em terreno da Marinha do Brasil, têm de pagar para entrarem com ônibus até a beira do mar, sendo tratados como indesejáveis pelos respectivos prefeitos das cidades litorâneas.  Dois pesos e duas medidas, esta é a verdade! 
Nossa homenagem, aqui em São Paulo, já é tradicional e vem sendo realizada há varias décadas e, se no passado o poder público era receptivo devido ao grande afluxo de pessoas às suas cidades nos dias em que eram realizados os eventos, quando o comércio local era beneficiado, hoje a realidade é outra e somos vistos e tratados como uma praga, como um estorvo pelo poder público das cidades litorâneas, com muitos nos acusando de “sujarmos as suas praias”, a maioria delas reprovadas para banho pela CETESB, que as consideram impróprias e até publicam a relação das que devem ser evitadas, devido o perigo para os banhistas.  
Nós só vamos em dezembro para as festas em homenagem a Iemanjá e, se deixamos os restos das oferendas na areia é porque não tem outro jeito de se fazer as oferendas. Não dá para inventar ou substituir esta prática milenar de se oferendar na natureza as forças e os poderes dos Orixás.  Mas, e a sujeira e as depredações que acontecem nos grandes eventos das outras religiões, e que ninguém sequer comenta, porque é tabu falar?
Muito se fala sobre intolerância nos dias de hoje, uma coisa que sempre existiu e infelizmente demorará pra deixar de existir, porém as mais evidentes são a racial e a religiosa.  Quando será que entenderemos que as diversas etnias existem por questões naturais e de sobrevivência?  O corpo se adapta ao meio em que vive, ninguém é melhor ou pior que ninguém; há apenas a adaptação do próprio organismo ao ambiente onde subexiste.  Nas religiões, não é diferente. Cada ser procura a religiosidade que melhor atende suas necessidades evolutivas, espirituais e humanas; não há religião melhor ou pior, o que há são Homens querendo ter mais poder que o outro, um dominar o outro, um se colocar mais sábio que outro, não entendem que todos estamos na mesma estrada evolutiva.  
Nós somos criticados e tratados como estorvos e cidadãos de 2ª categoria, tanto pelo poder público quanto pelos moradores das cidades litorâneas.  Os restos de oferendas são descritos como poluidores de suas “maravilhosas” praias que, na verdade, estão muito poluídas e oferecem risco para a saúde dos turistas banhistas, ou que só caminham pelas praias, oferecendo-lhes desde micoses até doenças infecciosas graves, mas isto eles ocultam, porque querem o nosso dinheiro quando vamos às suas cidades só como turistas, não é mesmo?  Hipocrisia!  
A intolerância se mostra de muitas formas e esta é só mais uma delas. As outras religiões até recebem incentivos dos poderes públicos (devido os políticos eleitos por seus seguidores), e seus eventos são vistos e tratados com respeito e reverência. Já os nossos, são vistos como perturbação dos seus habitantes e como poluidores de suas praias, como se fosse possível poluí-las ainda mais do que já estão. Para os seguidores das outras religiões, tudo!
                                      Rubens Sarraceni
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