22/01/2015

A PRIMEIRA INCORPORAÇÃO

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 Acho que a curiosidade com a incorporação é comum nos médiuns que trabalham num Terreiro de Umbanda. Todos querem saber como é o contato com uma entidade, quais são as sensações; todos querem dançar como a Pombagira ou sentir os ensinamentos sábios de um Preto Velho. E eu também me sentia assim.
Após muitos conflitos internos e após reformular muitas coisas na minha vida, eu me sentia pronta para começar a trabalhar. Estava feliz, porque me sentia pronta do fundo do meu coração, com sentimentos puros e verdadeiros, e não por orgulho ou para querer aparecer. Agradeci aos Orixás por não me terem deixado começar a incorporar pelos motivos errados, pois o tempo para reflexão e mudança foi necessário e eu estava muito grata por aquilo.
Era mais um dia de trabalho, o Terreiro estava cheio e eu estava feliz e bem disposta. Quando os médiuns começaram a cantar para as entidades eu fechei bem os olhos e, numa reflexão muito íntima, orei: “Meus Orixás, meus amigos espirituais que me acompanham, eu agradeço por estar aqui. Se for o meu caminho, se for a Vossa vontade, eu sinto-me pronta para trabalhar. Abro o meu corpo e o meu coração para que as entidades manifestem-se através de mim e ajudem todas as pessoas que estão aqui presentes, para o bem maior de cada uma”.
Com esta prece sincera e de coração, concentrei-me e comecei a sentir umas vibrações pelo meu corpo. Sabia que aquilo significava o início de uma incorporação. Vários pensamentos passavam pela minha cabeça: “O que vai acontecer a seguir? Será que eu danço? Será que eu falo? Este movimento foi meu ou foi da entidade que está a incorporar?” É difícil controlar estes pensamentos, mas respirei fundo, fiz um grande esforço para esvaziar a minha cabeça e deixar acontecer o que tinha que acontecer.
Naquele dia, tive a minha primeira incorporação. A vibração e a presença da entidade, uma Cabocla, não foram sentidas de maneira muito forte, e por isso nenhuma pessoa de fora foi atendida por mim, apenas um ou outro médium da casa. Os meus pensamentos e as minhas próprias sensações ainda estavam muito presentes e dificultavam a minha concentração e entrega. Mas, ainda assim, percebi a feição do meu rosto ficar diferente, percebi as minhas mãos a se moverem involuntariamente, senti intuições que pareciam não ser minhas, como a vontade de pedir o álcool com cânfora para a limpeza ou de soprar certas regiões do corpo da pessoa que estava a ser limpa.
Que interessante era a incorporação! Apesar de ter a percepção de tudo o que se passava a minha volta, de estar plenamente consciente, eu sentia outra força manifestar-se através do meu corpo. Senti a força e a grandiosidade daquela entidade e do mundo espiritual como um todo. Senti a grandiosidade da vida, retirei do meu coração qualquer dúvida que eu poderia ter sobre a continuidade e eternidade da vida após a morte no mundo terreno. De repente a minha vida aqui na Terra, os meus conflitos pessoais, as preocupações que me tiravam o sono se tornaram tão pequeninos…
Certamente a minha vida nunca mais seria a mesma após o primeiro contato com a força das entidades da Umbanda.

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