22/01/2015

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Print

Muito se fala sobre a intolerância religiosa, na maioria praticada por seguidores de determinadas religiões cujos seguidores se acreditam os únicos ungidos e amparados por Deus, mas pouco se tem falado na intolerância praticada pelo poder público, que se mostra solícito com as manifestações dos seguidores das religiões cristãs (católicos e evangélicos), franqueando-lhes espaço público em estádios praças e avenidas, proporcionando-lhes os mais variados serviços públicos (desde proteção policial até médicos, seguranças e fiscalização) para que possam realizar seus eventos com toda tranquilidade e segurança, não cobrando nada, por maiores que sejam os gastos que realizam. 
Contudo, quando é a vez da Umbanda promover seus eventos religiosos em homenagem a Iemanjá, tudo muda. Aí, as tendas, além de serem obrigadas a pagarem taxas de uso do solo, em terreno da Marinha do Brasil, têm de pagar para entrarem com ônibus até a beira do mar, sendo tratados como indesejáveis pelos respectivos prefeitos das cidades litorâneas.  Dois pesos e duas medidas, esta é a verdade! 
Nossa homenagem, aqui em São Paulo, já é tradicional e vem sendo realizada há varias décadas e, se no passado o poder público era receptivo devido ao grande afluxo de pessoas às suas cidades nos dias em que eram realizados os eventos, quando o comércio local era beneficiado, hoje a realidade é outra e somos vistos e tratados como uma praga, como um estorvo pelo poder público das cidades litorâneas, com muitos nos acusando de “sujarmos as suas praias”, a maioria delas reprovadas para banho pela CETESB, que as consideram impróprias e até publicam a relação das que devem ser evitadas, devido o perigo para os banhistas.  
Nós só vamos em dezembro para as festas em homenagem a Iemanjá e, se deixamos os restos das oferendas na areia é porque não tem outro jeito de se fazer as oferendas. Não dá para inventar ou substituir esta prática milenar de se oferendar na natureza as forças e os poderes dos Orixás.  Mas, e a sujeira e as depredações que acontecem nos grandes eventos das outras religiões, e que ninguém sequer comenta, porque é tabu falar?
Muito se fala sobre intolerância nos dias de hoje, uma coisa que sempre existiu e infelizmente demorará pra deixar de existir, porém as mais evidentes são a racial e a religiosa.  Quando será que entenderemos que as diversas etnias existem por questões naturais e de sobrevivência?  O corpo se adapta ao meio em que vive, ninguém é melhor ou pior que ninguém; há apenas a adaptação do próprio organismo ao ambiente onde subexiste.  Nas religiões, não é diferente. Cada ser procura a religiosidade que melhor atende suas necessidades evolutivas, espirituais e humanas; não há religião melhor ou pior, o que há são Homens querendo ter mais poder que o outro, um dominar o outro, um se colocar mais sábio que outro, não entendem que todos estamos na mesma estrada evolutiva.  
Nós somos criticados e tratados como estorvos e cidadãos de 2ª categoria, tanto pelo poder público quanto pelos moradores das cidades litorâneas.  Os restos de oferendas são descritos como poluidores de suas “maravilhosas” praias que, na verdade, estão muito poluídas e oferecem risco para a saúde dos turistas banhistas, ou que só caminham pelas praias, oferecendo-lhes desde micoses até doenças infecciosas graves, mas isto eles ocultam, porque querem o nosso dinheiro quando vamos às suas cidades só como turistas, não é mesmo?  Hipocrisia!  
A intolerância se mostra de muitas formas e esta é só mais uma delas. As outras religiões até recebem incentivos dos poderes públicos (devido os políticos eleitos por seus seguidores), e seus eventos são vistos e tratados com respeito e reverência. Já os nossos, são vistos como perturbação dos seus habitantes e como poluidores de suas praias, como se fosse possível poluí-las ainda mais do que já estão. Para os seguidores das outras religiões, tudo!
                                      Rubens Sarraceni

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...