07/10/2010

TOMANDO CONTA DE SI MESMO

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Em toda relação, a porta do "deixar ir" é mantida pelo ego de cada uma das pessoas. O ego deseja sustentação e a aceitação do outro, porém não pode lhe dar a mesma coisa em troca.
O ego tenta constantemente encontrar alguém para satisfazer as suas necessidades, porque ele não sabe como satisfazê-las ele mesmo. Ele está sempre pedindo algo que ele não tem ou que acredita não ter. Quando dois egos assumem uma relação ela não tem nenhuma chance de ser bem sucedida.
O "deixar ir" só acontece quando o ego sai do caminho, e ele não sairá do caminho enquanto não se sentir reconhecido.
Para reconhecer o ego, você deve ouvi-lo. Você deve escutar seus medos, seus desconfortos. Você deve deixá-lo saber que você não agirá de maneira à aumentar os seus medos.
Escutar os seus medos é um processo contínuo. No momento em que, num relacionamento, o outro te "provoca", você deve escutar e encontrar o que existe por detrás dos teus medos, tomar consciência dos teus desejos, dos teus sentimentos de falta.
Depois de um certo tempo, você constata, sem sombra de dúvidas, que ninguém sobre a terra pode cuidar dos teus medos. Nem mesmo você. Tudo o que você pode fazer é "estar presente" para os teus medos até que uma mudança interior aconteça.
A tua consciência conduzirá gradualmente esta transformação porque estar presente à si mesmo é um ato de amor. Ver teus medos e "estar" com eles cria uma profundo sentimento de segurança psicológico. Esta é a essência do processo que consiste em tomar conta de si mesmo.
Numa relação íntima, a primeira coisa que você tenta fazer é encarregar o outro desta responsabilidade. E o outro faz a mesma coisa tentando passar esta responsabilidade para você. E logo que isto acontece, e que cada um aceita o falso sentimento de responsabilidade pelo bem estar do outro, a relação será mantida através da culpa e da projeção mútua.
Não se submeta a este sofrimento e não faça o outro se submeter a ele. Recue um pouco e assuma a responsabilidade pelos seus próprios medos. Tome pela mão a tua criança interior machucada e deixe o outro fazer o mesmo.
Assim que o teu ego se sentir em segurança, porque você tem estado presente para escutar os seus medos, ele se retirará. E apenas neste estado de abandono que você poderá encontrar o ser amado.
Todo o trabalho espiritual que você tem que fazer refere-se aos teus medos, não aos medos do outro. Estar consciente de teus medos permite um espaço no qual o outro pode oferecer a sua verdadeira presença.
O ego tenta amar mas ele não pode. Ele só pode pedir e exigir. O amor não vem do ego, mas ele deve ir em direção do ego. O teu amor pela tua parte assustada, tua criança interior, cria um sentimento de segurança
Quando você oferece o amor ao ego, ele não é um problema. Ele só torna-se um problema quando você não oferece amor. Quando você não oferece o amor o ego torna-se feroz e quase insuperável. Quanto mais você recusa de amá-lo e de ser responsável, mais as defesas do ego tornam-se fortalecidas.
Tomar conta de si mesmo é a atividade fundamental da vida espiritual. Assim que você estiver no amor do Eu, você não encotrará nada para criticar em você ou nos outros. Você não poderá sentir incompletude. Então, quando você tem um sentimento de falta, você sabe que é o momento de se oferecer amor. Quando você encontra defeitos no outro, você sabe que é momento de se oferecer amor.
Procurar o amor no exterior de nós mesmos só nos conduz à frustração e ao fracasso. Nosso ego exige que os outros tomem conta de nós e nos dêem a segurança que apenas nós mesmos podemos nos dar; então, nós nos sentimos rejeitados e traídos quando os outros não podem satisfazer as nossas necessidades.
Não existe um final feliz neste ciclo dramático. Toda união acaba em tragédia. Não porque o amor é impossível ou trágico por natureza, mas porque aquele que tenta amar é aquele que está com falta de amor.

 
Paul Ferrini - La route vers nulle part - Tradução livre.

 

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