Ao falarmos de vingança, lembramos do ato consciente de fazer algo
nocivo para alguém que nos causou sofrimento. Em 1780 a.C., a vingança
já era autorizada na Lei de Talião, do Código de Hamurabi: olho por
olho, dente por dente.
É interessante escrever uma outra forma de vingança, que é surda e
sutil, mas compromete muito o bem-estar e a capacidade de se ter uma
vida prazerosa: ela está vinculada ao desejo de mandar uns nos outros. É
quando alguém acha que manda, e a outra pessoa faz de conta que
obedece.
O desejo de controle ou de mandar é um mecanismo arraigado nas
relações humanas. Darei alguns exemplos onde a tentativa de controlar o
outro está presente. Um é quando o marido quer que a mulher se vista do
jeito que ele deseja: ela aceita, mas com o tempo, passa a não ter
desejo sexual por ele. Outra é quando os pais que tentam mandar na vida
do filho porque acham que sabem o que é o melhor para ele: como
resposta, poderão ter um filho dependente e inseguro, que precisará dos
pais para tudo.
Mais alguns exemplos claros: a criança quer dormir no quarto dos
pais, porque tem medos, e os pais se submetem. Este filho poderá crescer
cheio de temores e grudado nos pais, não se mostrando competente para
cuidar de sua vida. O treinador de um time de futebol escala um atleta
numa posição que ele não gosta de jogar: o jogador irrita-se e agride o
adversário num lance bobo e é expulso. Ou os pais que se acham culpados
pela dependência química de um filho não tomam nenhuma atitude,
autorizando-o a seguir doente, e assim todos viverão mal na família.
Todas as situações citadas mostram um desejo de controle e uma
aparente submissão, mas surge uma vingança inconsciente e retaliadora.
Essa vingança é um sentimento maléfico, que consome e imobiliza o nosso
pensar e causa estrago em nossas vidas. E o mais perigoso é que não
temos a consciência de sua presença.
Para que surjam possibilidades de que nos livrarmos destas amarras, a
psicoterapia pode ser um excelente instrumento. Por que somente nos
conhecendo e tendo a consciência de todas nossas fraquezas, emoções e
temores, conseguiremos reagir melhor ao que a vida nos apresenta, com
muito menos chances de adoecer emocionalmente.
” A vingança pode ser inconsciente e retaliadora. É um sentimento
maléfico, que imobiliza o pensar e causa um estrago em nossas vidas.”
* artigo do, Dr. Nélio Tombini, publicado no caderno vida de ZH, em 21/05/11.
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