28/12/2011

A face mais sutil da vingança

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Ao falarmos de vingança, lembramos do ato consciente de fazer algo nocivo para alguém que nos causou sofrimento. Em 1780 a.C., a vingança já era autorizada na Lei de Talião, do Código de Hamurabi: olho por olho, dente por dente.
É interessante escrever uma outra forma de vingança, que é surda e sutil, mas compromete muito o bem-estar e a capacidade de se ter uma vida prazerosa: ela está vinculada ao desejo de mandar uns nos outros. É quando alguém acha que manda, e a outra pessoa faz de conta que obedece.
O desejo de controle ou de mandar é um mecanismo arraigado nas relações humanas. Darei alguns exemplos onde a tentativa de controlar o outro está presente. Um é quando o marido quer que a mulher se vista do jeito que ele deseja: ela aceita, mas com o tempo, passa a não ter desejo sexual por ele. Outra é quando os pais que tentam mandar na vida do filho porque acham que sabem o que é o melhor para ele: como resposta, poderão ter um filho dependente e inseguro, que precisará dos pais para tudo.
Mais alguns exemplos claros: a criança quer dormir no quarto dos pais, porque tem medos, e os pais se submetem. Este filho poderá crescer cheio de temores e grudado nos pais, não se mostrando competente para cuidar de sua vida. O treinador de um time de futebol escala um atleta numa posição que ele não gosta de jogar: o jogador irrita-se e agride o adversário num lance bobo e é expulso. Ou os pais que se acham culpados pela dependência química de um filho não tomam nenhuma atitude, autorizando-o a seguir doente, e assim todos viverão mal na família.
Todas as situações citadas mostram um desejo de controle e uma aparente submissão, mas surge uma vingança inconsciente e retaliadora. Essa vingança é um sentimento maléfico, que consome e imobiliza o nosso pensar e causa estrago em nossas vidas. E o mais perigoso é que não temos a consciência de sua presença.
Para que surjam possibilidades de que nos livrarmos destas amarras, a psicoterapia pode ser um excelente instrumento. Por que somente nos conhecendo e tendo a consciência de todas nossas fraquezas, emoções e temores, conseguiremos reagir melhor ao que a vida nos apresenta, com muito menos chances de adoecer emocionalmente.
” A vingança pode ser inconsciente e retaliadora. É um sentimento maléfico, que imobiliza o pensar e causa um estrago em nossas vidas.”

* artigo do, Dr. Nélio Tombini, publicado no caderno vida de ZH, em 21/05/11.

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