O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
(Cap. 12 – Amai os Vossos Inimigos)
A Vingança
JULES OLIVIER - Paris, 1862
9 – A vingança é um dos últimos resíduos dos costumes bárbaros, que tendem a desaparecer dentre os homens. Ela é como o duelo, um dos derradeiros vestígios daqueles costumes selvagens em que se debatia a humanidade, no começo da era cristã. Por isso, a vingança é um índice seguro do atraso dos homens que a ela se entregam, e dos Espíritos que ainda podem inspirá-la. Portanto, meus amigos, esse sentimento jamais deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e se afirme espírita. Vingar-se é ainda, vós o sabeis, de tal maneira contrário a este preceito do Cristo: “Perdoai aos vossos inimigos”, que aquele que se recusa a perdoar, não somente não é espírita, como também não é cristão.
A vingança é um sentimento tanto mais funesto, quanto a falsidade e a vileza são suas companheiras assíduas. Com efeito, aquele que se entrega a essa paixão cega e fatal quase nunca se vinga às claras.
Quando é o mais forte, precipita-se como uma fera sobre o que considera seu inimigo, pois basta vê-lo para que se inflamem a sua paixão, a sua cólera e o seu ódio. No mais das vezes, porém, assume uma atitude hipócrita, dissimulando no mais profundo do seu coração os maus sentimentos que o animam. Toma, então, caminhos escusos, seguindo o inimigo na sombra, sem que este desconfie, e aguarda o momento propício para feri-lo sem perigo. Ocultando-se, vigia-o sem cessar, prepara-lhe cilada odiosa, e quando surge à ocasião, derrama-lhe o veneno na taça.
Se o seu ódio não chega a esses extremos, ataca-o na sua honra e nas suas afeições. Não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas em todas as direções, vão crescendo pelo caminho. Dessa maneira, quando o perseguido aparece nos meios atingidos pelo seu sopro envenenado, admira-se de encontrar semblantes frios onde outrora havia rostos amigos e bondosos; fica estupefato, quando as mãos que procuravam a sua agora se recusam a apertá-la; enfim, sente-se aniquilado, quando os amigos mais caros e os parentes o evitam e se esquivam dele. Ah!, o covarde que se vinga dessa forma é cem vezes mais criminoso que aquele que vai direto ao inimigo e o insulta face a face!
Para trás, portanto, com esses costumes selvagens! Para trás com esses hábitos de outros tempos! Todo espírita que pretendesse ter, ainda hoje, o direito de vingar-se, seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tomou por divisa o lema: Fora da caridade não há salvação. Mas não, não me deterei em semelhante idéia, de que um membro da grande família espírita possa jamais ceder ao impulso da vingança, mas, pelo contrário, ao do perdão.
O PERDÃO APAGA ERRO?
O perdão é melhor para quem o dá que para quem o recebe. A ação de perdoar é muito importante para aquele que se dispõe a conceder o perdão, de outro lado, aquele que é perdoado, na verdade, não se vê livre das mazelas criadas com a
magoa que causou. Mazelas que se ligam as reações cármicas e aos dramas de consciência por parte do ofensor, daquele que cometeu o deslize, não se resolvem por ele ser perdoado.
Perdoar é uma arte e aquele que perdoa fica livre das consequências funestas da crise que desencadeou o tal perdão. Assim sendo, é claro que o verdadeiro beneficiário do perdão é aquele que perdoa, tão somente, pois o perdoado não tem seu problema resolvido com o perdão. Embora sua relação se reestabeleça com quem lhe perdoou a verdade é que a falha embota sua alma, e não é o perdão que resolve. A constrição do problema é que se faz necessária.
Se aquele que apronta pensa que suas malvadezas podem ser abolidas com o perdoar está enganado redondamente. O perdoado precisa educar seus gestos, caso contrário continuará conturbando e perturbando seus redores.
Quando Jesus nos instiga a perdoar no evangelho ele deixa bem claro que as contendas quando são levadas ao extremo geram mais e mais conflitos, contando sempre com danos morais e espirituais para os dois lados. Sabedor que o indivíduo ofendido foi fustigado pelo drama ele propõe que que o ofendido perdoe por que sabe que o drama do autor da maldade aumenta, uma vez que terá que suportar a sós as cosequências de seus atos já que não terá ninguém para praticar retorção. Considere aqui que aquele que perdoou passa, apartir dali, a não fazer mais parte do contexto da trama, pois o perdão, sincero, lhe deixa livre de qualquer ônus. Sem contar que aquele que tem categoria para perdoar um insulto é por que tem a alma envolta numa candura provincial e a mente amadurecida.
Se você não perdoa você acaba dividindo o balde cheio de podridão com aquele que lhe enlameou.
Portanto, perdoar não apaga o erro cometido nem trás sossego pra alma do autor da mágoa, mas sublima o perdoador.
Jesus também disse: deixe a lama para os porcos, nem dê pérolas pra eles...etc.
Marlon Santos
PORQUE PERDOAR
O sentido primário de perdão é o de remissão da culpa, ou seja, a desculpa. O mesmo pode ser dito quanto a uma dívida (que se existe é porque foi determinada uma pena apriorística) ou a uma pena (consequência da ausência do perdão enquanto tal, mas sempre passível de perdão). Porém, para que o perdão possa existir, há, necessariamente, que existir o que perdoar. Portanto, para que se possa exercer o perdão, obrigatoriamente há que existir, assumidamente, a quem perdoar. Perdoar a quem não admite e/ou assume a culpa, pena ou dívida, equivale a coisa alguma. O julgamento público serve exatamente para determinar a culpa, para se aplicar a pena e/ou o perdão. Mas é preciso sempre, primeiramente, que exista a culpabilização, seja ela voluntária ou involuntária. É preciso existir um culpado.
A pior parte do perdão, e que mesmo o inviabiliza, é a não aceitação por parte do culpado de seu ato, ou a ausência de prova de culpa. Neste caso não há perdão possível, por mais altruísta que se seja. Mesmo o mais profundo espírito filantropo não seria capaz de perdoar aquele que diz não ser culpado. O perdão cai num vazio irresistível.
Portanto, o primeiro passo para que possa existir o perdão, é existir alguém de se julga culpado. Parta o incentivo ao perdão da atitude de quem perdoa ou de um pedido de perdão do culpado, há sempre que existir os dois lados da questão.
Porém, e concordando com Schopenhauer, acredito que mesmo ao perdoar, nunca deveríamos nos esquecer do motivo que levou ao perdão, ou seja o que levou ao perdoado a se culpabilizar, pelo simples motivo de que estaríamos desperdiçando a oportunidade de agir de forma didática, afim de corrigir o comportamento que proporcionou a atitude culpabilizável. Perdoar nunca deve ser equivalente ao esquecimento. Schopenhauer ainda vai mais além dizendo que deveríamos inclusive avaliar o valor que o culpado tem para quem perdoa, afim de decidir se vale ou não a pena correr-se o risco de ser tratado da mesma forma, ou mesmo pior, da que fomos no ato culpabilizante. No exemplo que ele se utiliza, lembra apenas de um amigo e de um servente. Segundo o filósofo, no caso do amigo, se julgarmos que não vale o preço da culpa, deveríamos simplesmente deixar de se-lo. No caso do servente, dispensá-lo.
Porém ele se esquece de um caso bem mais difícil de se julgar, que é o caso dos filhos. Eles também agem de forma a serem culpados por atitudes ofensivas, passíveis de penalização ou perdão. Neste caso, acredito, temos a tendência de desculpar sempre, mas nunca devemos nos esquecer do ato e nem devemos deixar de aplicar penas, sob o risco de os estar a incentivar a agir errado, pelo fato de não terem consequências os atos culpabilizantes.
Pelo fato de serem nossa sequência genética temos a tendência de culpar-mo-nos a nós próprios por alguma possível falha de nossa educação, ou mesmo pelo caráter geneticamente transmitido. Mas esta é uma fraqueza de nosso ser, que não nos permite ver para além de nós próprios, que não nos faz admitir nossos próprios erros, nossas próprias culpas. Teríamos que, antes de julgarmos e perdoarmos aos nossos filhos, perdoarmos a nós próprios. Mas para isto seria necessário haver a culpa e isto, seja para quem for, é muito difícil de admitir.
Há ainda um outro aspecto do perdão, este mais cruel, que diz respeito a conveniência. Sejam políticos, religiosos e outros poderosos, muitas vezes o perdão é concedido para obtenção de algum benefício por parte de quem perdoa. O mais pérfido dos perdões foram os concedidos através da venda de indulgências por parte de religiosos sem escrúpulos, que em troca de dinheiro e/ou bens, concediam a “salvação” divina aos crentes e incautos, que temiam a não obtenção do perdão de um deus imaginário que os remeteriam aquilo a que Dante imaginou, e descreveu magnificamente, que fosse o inferno.
O inferno é mesmo o ícone mais óbvio da consequência da culpa na ausência do perdão. Seria o destino daqueles que fossem incapazes de serem perdoados num julgamento final que aconteceria após a morte, onde seria feito um balanço de nossas vidas e de nossas culpas. Esta ideia, ao que parece pela documentação existente, surgiu no Antigo Egito, onde existia inclusive um livro feito especificamente para ensinar aos candidatos a morto o caminho para o perdão final, que seria percorrido imediatamente a seguir a morte. Não é preciso dizer que o tal livro era vendido e muito caro!!! Depois esta ideia foi apropriada e adaptada pela religião judaica/cristã, e desenvolvida na Idade Média, onde antes de mais nada tinha-se muito tempo. Mas isto, como já disse, faz parte do imaginário humano. Céu e inferno, alto e baixo, são expressões humanas da dualidade da qual aqui tanto falamos, e ainda falaremos, e não passam de imaginação. Em alguns casos ela, a imaginação, beira a obra prima, como é o caso da Divina Comédia.
Há ainda um outro aspecto do perdão, lembrado por Jean Jacques Rousseau, quando diz: – “Conheço muito bem os homens para ignorar que muitas vezes o ofendido perdoa, mas o ofensor não perdoa jamais.”
MEU PEDIDO DE PERDÃO
Me perdoa,me perdoa por aquilo que eu não fui…
Tive a oportunidade de ser, mas não fui…
E hoje me fiz pecador…
Pequei pela lágrima que não escorreu,
Pela voz que me faltou,
Pelo olhar que não tive,
Pequei pelas mãos que estavão em meu bolso
Pela omissão sincera do meu comodismo
Pelo fruto de minha malícia
Como posso dizer que não tinha escolha?
Tive escolha, tive vontade, tive medo…
Mas virei minhas costas
Virei para ignorar tudo que sei, que tenho, que quero…
Me fiz cego, surdo, mudo…
Me fiz um vegetal para fugir da condição humana!
Engano… erro, ingratidão…
Um prazer que me leva pra longe de mim mesmo!
Uma condição que tenho. E não posso nega-la.
Sou PECADOR…PECADOR… RECONHEÇO!!
Era só o que EU QUERIA!!!
Que vc pudesse ver sua condição.
Te aceito e cuido de vc…
Foi por sua condição que morri por vc.
Obrigado Senhor por poder fazer essa oração. Muito OBRIGADO!!!
Pedir PERDÃO é pedir VIDA… “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.”
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